Dois. Homens. Um. Barba grande, rosto vermelho. Nariz também. Olhos brilhantes. O outro magro. Rosto comprido e pelado. Pouco cabelo. Dentes trincados. No ar as ofensas. Um olho dentro do outro. Cruzamentos de ódio. Movimentos ao redor. Estudo do corpo. Dança. O momento do soco. A mão. Punho serrado e duro. O lábio em explosão. Sangue. Gotas na camiseta. Na boca. Novamente o punho. Baixo. A barriga. Um urro. O salto e o abraço. No chão os corpos. Rolo compressor de carne. Braços e pernas sem corpo. Invenção do movimento na fúria.
Na rua a observação silenciosa do cão. O cheiro do sangue nas narinas, a tensão da luta no movimento arisco do animal. O espectador.
As palavras terríveis. Projéteis mortais. Cusparradas de verbo. Setas envenenadas. E o joelho em movimento simétrico. E o queixo. E a dor. E a tontura. A barba e o sangue. A cabeçada. Os dentes fora da boca. Mais sangue. Mais dor.
O animal e sua distância. O tombo. O chute. O pé no ar. A luz e a escuridão. A luz…a escuridão. O corpo. O giro para a esquerda. A perna presa, o outro tombo. Mais socos.
Já não um rosto. Só a dor e carne. Em exposição. A vergonha. O insulto. A honra.
O cansaço e sua soberania. O ofegar além do corpo. O tropeçar em si mesmo. A oscilação da perna. O outro. O corpo em teimosia. Erguido. Braços para a luta. Punhos cerrados. Meio termo? Não.
Primeiro o grito, depois a mulher. Lágrimas abundantes. O afogar do arrependimento e da vergonha. O descuido. A mão feroz no rosto, o murro animalesco. A agressão final.
O abandono do corpo. O silêncio. O surdo som do corpo em último tombo. A distância do outro. Passos… tempo. O corpo e a ausência. A rua.
Os beijos carinhosos. Os sussurros e lamúrias. Desculpas imploradas, corpo embalado. Canção de amor. Palavras afogadas na dor.
Uma sirene e a ambulância. Curiosos. Perguntas. Motivos. Explicações.
Amores, traições, vingança, dívidas, bebida, jogo…
Só a rua agora… E o cão.
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