sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

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A Dama do Metrô 68








Arrastando os pés, caminhava procurando a lentidão das sombras nas marquises dos edifícios humanos.
De vez em quando tropeçava num corpo dormindo ao relento da madrugada enrolada em cobertores sujos ou em papéis ou caixas de papelão.
Roçava a pele na friagem quando entrou no terminal de ônibus. Dirigiu-se ao clichê e pediu decidida.
- Por favor, uma passagem para São Paulo.
Sua mão tremia de frio no excitamento. Sentiu-se totalmente segura quando o ônibus saiu da cidade.
Olhou pela janela o véu escuro da madrugada. Uma vez ou outra surgia um ponto luminoso na distancia inundando o momento a invadir seu ser em liberdade.
Encolheu-se nos braços de Morfeu relembrando os últimos instantes da sua vida.
Ao ouvir a porta da sala sendo fechada violentamente, Malu ainda ficou por alguns minutos chorando.
Quando o silêncio se fez ouvir apenas com o som da televisão, erguendo a cabeça, já tinha em mente uma decisão firme e que ninguém a demoveria.
Juntou suas coisas as mais necessárias na mochila e saiu de casa decidida não mais voltar.
Perambulou pela cidade a tarde toda sem ter um plano do que poderia fazer e como fazer. Estava praticamente sem dinheiro, o que tinha não dava nem para uma passagem de ônibus.
Foi quando ao virar a esquina da matriz viu RR na lanchonete tomando uma coca. Não pensou duas vezes. Entrou na lanchonete e sentou-se ao lado do rapaz.
RR muitas vezes rolou com ela no barracão da sua casa, já pagou muitos sorvetes para ela, provavelmente se lembraria dela e, quem sabe a ajudaria.
- Olá – disse sentando-se no banco ao lado dele.
RR a olhou como se olhasse para um ponto desconhecido pouco se importando que fosse ou quem seria a pessoa.
- OI, não se lembra de mim?
- Nunca a vi nem mais e nem menos gorda.
- Esperava por isso. No entanto você me pagou muito sorvete, sabia?
- Eu? Duvido!
- Vou avivar tua memória. Diga-me quantas vezes você rolou... Como é mesmo que você dizia? Ah! Sim. Magricela do 201.
- O que?
- É isso mesmo, a Magricela do 201. Sou eu.
- Caçamba! Menina como você cresceu! Lembro que você era uma magricela, mas tinha um fogo...
- Bom ainda tenho fogo...
- O que traz você aqui?
- To fugindo de casa.
- O que?
- É, meu pai descobriu o que eu faço no barracão e me expulsou de casa. To precisando de um lugar para dormir essa noite. Será que você não tem um lugar na sua casa para que eu possa passar a noite?
- Em casa não tenho, mas podemos fazer algo diferente.
- O que?
- Bom podemos curtir a noite e depois um hotel, o que acha? Eu pago tudo, desde que...
- Desde o que?
- Bom você sabe o que fazíamos no barracão...
- Topo, vamos logo que estou faminta.

pastorelli

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