A DANÇA DOS ARCOS
4.
O caracol da escada foi elevando-se até uma pequena murada atirada nua e branca na areia. Muitos foram os pisos a descoberto. Ondulavam-se os montes, baixos, de curto horizonte. As estrelas amordaçavam a abóbada, única, e eram mais satisfeitas.
- É pequeno o espaço do príncipe – constatou Amadeu.
- Ainda não se reuniu – esclareceu Atílio. Aqui, esquece-se das intermináveis solidões, e já se pode assimilar o horizonte circundante.
- É uma circunstancia que não discuto. Mas, esse bom oriente parece mais propício a infundir uma falsa tranqüilidade, com o seu domar, do que instar-se a o devassar.
- É a norma do conforto. Antes de partir alcança-te sobre os teus domínios.
Alguns remansos de pouca cor e algum fastio jaziam, presos de pouca inspiração.
- E ali? – perguntou Amadeu.
- É o homem dormente dormido em seu castelo. Levantou pedras e orgulhos, batizou os filhos e calou-se da escuridão.
- Temia-a tanto... preferiu economizar do apostolado para não enfiar-se ao risco.
- Séculos correram exultantes de varrê-lo. As voltas em si mesmo eram contínuas.
- Mas evitava-se a miséria.
Ainda havia luz caminhando ao Norte. Refletia alguma substância, pequenos torneios de lua, imagens de dragão.
- Cada cosmo cuspiu-se por inteiro. Foram lentas as passagens.
- Nem tudo se indica por linha reta – recomeçou Atílio. Vão se abrindo as fraldas do espaço e, aqui e ali, colam-se necessidades e imperativos.
- Porém, escapa-se.
- E o primeiro mandamento?
- Sem dúvida o de evitar-se o desconhecimento. Construído, é fato, e a passagem só em torno dele.
- E o segundo?
- Pouca dificuldade. O que não se integra relaxa de uma pequena garantia de luz. Não invalidará a ascensão.
- Sempre conhecerá o príncipe as leis do bom tempo.
E fitaram o firmamento. Havia, espiando os oratórios, uma grande claridade à deriva.
- São mundos construídos a erro.
- Edificados em cima de pouca garantia.
- Já não se prontificam os nódulos – e Atílio apontou o leste.
- De si mesmos morreram. Levaram junto os espectros. Eram esqueletos de pouca monta.
Era uma areia muito branca, fina, escorrida, em camadas e camadas, e nenhuma perfuração lhe traria vida. Seguiram ajeitados da noite alva, em meio às pálidas configurações. Não elevariam o rosto, nem estenderiam a mão. Deixariam passar-se assim, em passos lentos, por uma noite que caia, altiva de esquecimento. Sem rosto, sem brios, sem cor, à margem do movimento.
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