quarta-feira, 7 de março de 2012

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A DANÇA DOS ARCOS 5 - JANDIRA ZANCHI


A DANÇA DOS ARCOS

5.

      Marian começou o bailado. Cada mascarado seguia sua sombra, uma ave e cem perfídias. Discutiu-se tanto que não se elegeu o melhor conviva.
-         São  duas as presas do rei – cantavam. A melhor é a sua gula, mas que não se esqueça da pretensão.
    E trombavam-se a cada volta. Não eram poucos os arranhões.
-  Quem escolhe não se senta para observar o líquido que escorre. Quando está cheia a tina? É sempre ao ponto da melhor partida !
   E conseguiam rir um pouco. Avançando e sem pressa, o diabo tomava o lugar de líder
-         Reis são fátuos e em fátuos reinarei. Acolhem-se de seu próprio brilho, mais voraz é o astro ao lado.
Ajoelhavam-se para a penitência :
-         Farei três Aves para aquele que me trouxer a melhor pena da Ave.
-         Tenho um prazo para as prendas e um cálice para a oferenda.
-         Percorro cem percursos de sulcos para enviar os rios de minha vida.
   E marcharam. Eram ordens, eram leis. De quem, de quem? De um senhor branco e indignado. Soldou-nos as botas, escovou-nos as fardas.
     Cuspiam-se com muita freqüência. Ora pelos ovos, ora do azeite, às vezes do pote e do mel. Uniam-se para as necessidades. Um afiava as presas do outro, rebuscava seus santos, segredava alguma perfídia.
    Não usavam os gritos para os campos de guerra. Desses conheciam, com folga, os detalhes – morada única, cerco inevitável. Na paz limpavam os pratos. Longas filas se sucediam para a lavagem na beira do rio. Os metros de alinhamento deslizavam-se por dias e dias... e dias e dias. Mas, sempre o dia em que se tropeçava no outro.
    Quando o sangue escorria, alguém sempre chorava – de alegria! Era bom a calda fervendo, ardendo de maus cheiros e péssimas noticias.
    Espiavam-se com secura. Eram certas as trombadas, breves as calmarias. Afinal, haviam sidos compostos esses compassos à sombra do líquido. Tinham o traçado de uma estrela de cauda pequena, as pontas afiadas, diversas, coloridas ao longo do fio. Cansavam a vista. Marian tocava-os e seus dedos se desprendiam. Consultou seus mapas para saber o tempo de consecução. Parecia ser longo e incerto, jorrando liquido e insulto, espremendo-se todo.

      No centro do círculo o diabo esquentava-se por inteiro. De tanto queimar-se com o desalinho da má proposta, ia se desvencilhando. Talvez um dia, horrendo, sem barba, nauseabundo ferido, esquecido de que princípio,  partisse – por que era tão lindo o Castelo do Príncipe?

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