quarta-feira, 28 de março de 2012

0

A DANÇA DOS ARCOS 8 - JANDIRA ZANCHI


A DANÇA DOS ARCOS  -  A DANÇA DOS ARCOS

8.
    Marian, por fim, soltou-os no léu espaço da vida. Comprometera-se em demasia. Não a cumpriam com as primeiras promessas.
-         Minha máscara escorrega, denigre-se, é feia e vil. Quem sou eu?
-         Amancebada com os príncipes, você nos enfiou à trave, cuspidos do teu seio.
-         O bom partido só interessa a você! Quer acreditar-nos afeitos aos encantos, nauseabundos, da tua ótica.
-         Se ao menos tivessem deixado escorrer minhas lágrimas... e se fossem de ódio, e se fossem de inveja? Ao menos eram minhas!
-         Em meu centro encontro uma alma. Do seio da vida só encontrei o fel.
-         Esmaga-nos com esses frouxos de generosidades e compreensões.
-         Arrebento-me no lodo antes que novamente consinta em acariciar as tuas palavras.
-         Se não fluímos pelas instâncias do teu reino ao menos nos deixem ser a ferida.
    E execraram-na. A sacerdotisa novamente foi ao terraço para examinar a boa gente do povo. Alguns se desprendiam escuros e vomitados e era quase impossível reconhecê-los em meio a tantos sorrisos. Só surgiam com a espada e a foice, já escarninhos, comprometidos, saturados de ar e vento.
     E por que seria diferente? Pela alegre cor da magia? Nada justificava que não se afundasse o fosso na vala e no vácuo. Era consistente.
    Pensou em consultar o efebo. Encontrou-o com os olhos altos, encanto e fé no infinito. Nos vocábulos de muita alegoria encheu-a de riscos e arcos, ornou-a de penas e ouro, distanciou-a para um fervor no templo.
    Os mestres tinham saído, percorriam o desértico deserto. Amiúde enviavam suas cartas, cheias de pompas, nobres de asteriscos. Pareciam saber-se, mas quebravam as instâncias aos golpes de seus ensinamentos.
    De que servia poder tão pouco? E girou por muitos dias os mantos dos santos. De que servia, de que servia... nada lhe acudia. Nem a febre, nem a dor, nem o pálido esquecimento. Talvez lhe faltassem mais uns grãos de boa areia, uns sulcos de arredondamento... algum vaso de suficiência.
     Até que se deparou. Cruzou e retificou. Enviou ao povo das pedras alguns gráficos e planilhas de curvas. Turbinou, em torno deles, um enterro de máscaras e uma medida de túnica. Colou-os aos assentos, deu-lhes papel e algo de tinta. Com aparato de lua e prata anunciou que se servissem, pois era claro e livre o espelho das formas silenciadas na dança do ouro. Eram nuas, pois cientes de seu vazio, participavam da eternidade.
   As máscaras ressurgiram, sem estofo, magníficas, quase a prumo de si mesmas!  Nenhum que se sentava , naquele silêncio de águas, queria perder a boa face, deslizar no solfejo, arranhar a boa mensagem, sair da sintonia dos princípios. Largaram-se ao redor do palco com tal espuma de seus convites que Marian sonhou o dia em que fariam, por puro costume de trajeto, o  gozo no  aéreo arco .

Seja o primeiro a comentar: