terça-feira, 27 de março de 2012

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Sombras e brisa

Desabou a parede
de retratos,
nada mais
restava de pé.
Levou anos
repassando imagens
com olhar de máquina
de escrever.
E emperraram as teclas...
A letra A do nome dela
agarrou-se ao S
de separação.
Não pode sair,
ficou diante da parede
a indagar respostas.
Ao seu redor
desconstruía-se o Mundo,
e ele – não medindo esforços –
mantinha-se erguido
sobre os escombros,
que o espremiam
cada vez mais
de encontro a parede.
Tão exíguo
tornou-se o espaço
que seus óculos
se arranhavam na moldura.
Os pelos da barba
entravam pelo vidro
estilhaçado
e roçava
as coxas por debaixo
do vestido.
A ausência de espaço
não poupara
nem mesmo as sombras.
Mas agora,
todo passado
era destroços.
E uma brisa
irritante
feriu-lhe os olhos
através da lente
quebrada dos óculos.


Jorge Elias Neto

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