terça-feira, 17 de abril de 2012

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Aleph




Grãos de chuva fina
deslizando sob o vidro da janela
libertam o feixe de pensamentos
que a tarde fria insistia em obstruir
receosa em perder o domínio
de um momento melancólico

Como uma cunha em madeira de lei
encharcada pouco a pouco com água do mar
a quietude do momento
é assaltada

Um martelo açoitando uma bigorna
estremece os mais íntimos devaneios
entorpece a razão
não faz frente ao chiado
do afiador de punhais
impecável em suas vestes brancas
manobrando a manivela surreal

Nestes momentos, o tempo
acena com uma pausa
providencial para impedir o surto
e, soberano senhor,
invertendo a ampulheta real
permite apenas o som singelo
da flauta transversal
em homenagem a Krisna.

17.04.2012

1 Comentário

Fernando Santos (Chana)

Espectacular....
Cumprimentos