terça-feira, 15 de maio de 2012

1

NA RUA






Um carro.Mais. Outro carro. Tantos. Pessoas várias. Uma. Duas. Todas. Rua. Uma e muitas. Intersecção. Curvas. Becos. Olhos. Dois. Diversos. Um silêncio; não. O som. O barulho, o ruído. Burburinho. Passos, pássaros? Improvável. Tolerável o contato. Corpo. Corpos. Desvios, choques. Odores. Suores. Braços. Movimentos... segmentos. Movimento e pausa. Continuidade. Continuação. O contínuo da ação. A palavra. Na boca. Na placa. No rádio. O discurso. A intenção. A sujeição. A imposição. O vidro e o cimento. Túmulo? Da donzela? Do conto das antigas fadas? Vitrine. Desejo e consumação. Angústia. Inveja. Prazer e frustração. Cansaços em degrade. Desilusão em várias nuance. Velocidade. Objetivo. Chegar. Ir e chegar... se der voltar... Voltar da rua. Dos caminhos tantos que não são nossos e também o são. O cão que perambula. O olfato atento. O homem, o flato nauseabundo. O odor do corpo e da rua. O corpo da rua e seu odor. A dor da rua e sua náusea. O cão. Pela mão a menina. Preso o corpo. A imaginação flutuante. Devora vitrines. Brinquedos e roupas, doces e salgados. Sonhos. Os sonhos da rua devoram-nos. Todos. Caminhar. Uma perna após a outra. Mover todas as instancias da carne. Produzir o movimento... Ir... Vir... Na rua que se perde sob os pés e cabeças e corpos e odores e presentes e dívidas e sorrisos e tristezas o pássaro voa. Distante. Há silêncio nas alturas de sua rua? Vastos e escassas carnes desfilam seus panos. Coloridos e estigmatizados com suas grifes. Estimativas de um valor hipotético. Virtual? Ondulantes carnes se oferecem, outras agridem, afrontam, zombam. Outras, sentadas em propícios ambientes, devoram cadáveres alegremente e bebem água, refrigerantes, café, cerveja e cachaça. Sóbrios começam a caminhada, alguns corpos... ébrios e tontos chegam... ou nunca. A rua é língua. Lascívia. Um olho que passa encontra outro e se encontram os corpos e se aproximam as vidas e se edificam histórias e memórias e famílias e lendas e mais corpos... para a rua. Entro no ônibus e fecho os olhos. Vou.

1 Comentário

Jorge Xerxes

Ronie,

Um Ótimo Texto!

"Mover todas as instancias da carne. Produzir o movimento..."

"A rua é língua. Lascívia. Um olho que passa encontra outro e se encontram os corpos e se aproximam as vidas e se edificam histórias e memórias e famílias e lendas e mais corpos... para a rua."

Parabéns e Forte Abraço, Jorge