Três serão os
grandes figurantes da Rio+20: os representantes oficiais dos Estados e
governos, os Empresários e a Cúpúla dos Povos. Cada grupo é portador de um projeto
e de uma visão de futuro.
Os representantes
oficiais, a considerar o Borrador Zero, repropõem o desgastado desenvolvimento
sustentável agora pintado de verde. Esquecem, entretanto, de confessar que ele fracasssou
rotundamente. Diz Gorbachov: ”o atual modelo de crescimento econômico é
insustentável; ele engendra crises, injustiça social e o perigo de catástrofe
ambiental”(O Globo 8/6/2012). Os
principais itens que sustentam a vida estão em degradação denunciou ainda em
2005 a Avaliação Sistêmica do Milênio o que foi repetido pelo recente relatório
do PNUMA. O Borrador Zero da Rio+20 reconhece:”o desenvolvimento sustentável
continua a ser um objetivo distante”(n.13). Mas parece não terem aprendido nada
dos fatos. Em sua fé dogmática no desenvolvimento sustentável, que, no fundo, é
crescimento material, continuam propondo mais do mesmo.
De forma
contundente diz ainda Gorbacov: “vinte anos depois da Rio-92 estamos rodeados
de cinismo e, para muitos, de desespero”. Não teriam os agentes do atual
sistema mundial sofrido uma espécie de lobotomia? Não sentem a urgência da
ameaça ambiental. Preferem salvar o sistema financeiro e os bancos que garantir
a vida e proteger a Terra. Esta já está
com os faróis no vermelho e no cheque especial.
Os empresários,
fortes figurantes, estão tomando consciência do limites da Terra, do aumento
populacional e do aquecimento global. Não esperam pelos consensos quase
impossíveis das reuniões da ONU e dos governos. Mais de cem lideranças
empresariais já se reuniram no Rio, antes do evento formal. Pretendem criar o G-0
em oposição ao G-2, G-7 ou G-20. Com certo autoconvencimento chegam a
dizer:”nós precisamos assumir o comando”. A agenda coletiva acertada vai na
linha da economia verde, não como maquiagem”,
mas como uma produção de baixo carbono e preservando o mais possível a
natureza. Contudo, constituem apenas 1% da empresas com receita acima de US$ 1
bilhão como nos referiu recentecente o Financial
Times. Dão-se conta de um problema ainda insolúvel dentro do atual modelo: como articular sustentabilidade e
lucro? Os acionistas não querem renunciar a seu lucro em nome da
sustentabilidade. Esta acaba sendo tão frágil que quase se esvai. Pelo menos, estes empresários viram
o problema: ou mudam ou se afundam junto com os outros.
O terceiro
figurante é a Cúpula dos Povos. Serão milhares, vindos de todo o mundo: os
altermundistas, aqueles que querem
mostrar o que estão fazendo com a economia solidária e o comércio justo, com a
preservação das sementes creoulas, com o combate aos transgênicos, com a
produção orgânica da economia familiar, com as ecovilas e as energias
alternativas. Aqui se apresenta uma outra forma de produção e de consumo mais
em consonância com os ritmos da natureza, fruto de um novo olhar sobre a Terra,
com dignidade e direitos.
Para atalhar,
diria: no primeiro grupo reina resignação, no segundo, inquietação e no
terceiro, esperança. Estimo o seguinte resultado da Rio+20:
A reunião formal
da ONU vai aprovar a economia verde, mantendo o mesmo modo de produção capitalista
básico. Isso dará o aval para as empresas fazerem negócios com bens e serviços
naturais. Criar-se-á uma Organização Mundial do Meio Ambiente, na linda da
Organzação Mundial do Comércio.
Os empresários
irão pressionar os governos a não interfirem nos negócios da economia verde.
Querem o caminho livre pois se trata de uma economia de baixo carbono e, por
isso, ecoamigável, embora dentro do modelo vigente.
A Cúpula dos Povos
irá lançar uma alternativa à Economia Verde com a Economia Solidária. Criarão articulações
globais contra a mercantilização dos bens e serviços vitais como água,
sementes, solos, florestas, oceanos e outros, entendidos como Bens Comuns da Humanidade.
O salto rumo a um
novo paradigma de sociedade planetária não se dará por ora. Mas será
obrigatório face às crises socio-ambientais que se aproximam. O sofrimento
coletivo nos dará amargas lições. Todos aprenderemos, a duras penas, o amor
e o cuidado à vida, à Humanidade e à Mãe
Terra, condições para o futuro que queremos.
Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo
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