terça-feira, 10 de julho de 2012

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MORTE NO BAR



Sozinho resolvo que tenho que morrer. Mas não simplesmente morrer e acabar. Deveria morrer em direção a algo. Morrer querendo algo. Buscando talvez a volta ao grande caos, ao nada. Tornar-me simplesmente um fluxo qualquer. Movimento e repouso... velocidade e intensidade...
Hora de ir. Diz-me uma mulher feia e de mau cheiro. Seria ela ou eu? Tome um banho. Ela me diz. Sou eu. Não percebo que os outros vão embora e apenas eu estou no bar quando a ambulância chega. Digo algumas palavras. Poucas. Eles atiram a grande morte sobre o leito de pequenas mortes urbanas e levam a galeria de sombras na qual me embrenhei para o necrotério. Todos mortos.
Um jornal? Ela me faz pagar pelo jornal do dia anterior. Eu pago. Cato moedas pelo bolso. Ela espera. Ela sempre espera. Seu nome é Hilda. E a conheço há muito tempo. Nunca falamos nunca nos olhamos. Apenas sei que ela existe. Ela. Nem isso sabe.
Adeus Hilda. Seus olhos abrem ligeiramente assustados. Nunca ouvira minha voz. Ela parece tentar dizer algo, mas logo muda de idéia, resmunga algo que nunca saberei o que é e volta para o balcão. Eu saio.
Estou sempre saindo, mesmo antes de entrar estou sempre saindo. Fora. Mesmo estando dentro disso tudo, estou sempre fora.
Procuro vida no jornal. Sangue é sempre sinal de vida. E o jornal está sempre repleto. Excitação. Falei que éramos todos um pouco doentios.

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