sábado, 4 de agosto de 2012

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Crônica da tristeza


Tristeza é o nome de um bairro nobre de Porto Alegre, cidade onde nasci e passei a juventude. Lá, tristeza para mim só existe no nome, porque é também o bairro que carrego boas lembranças. Da última vez que lá estive, junto com meu pai, passei a associar tristeza a uma visita calorosa e portanto, repleta de alegria...

Tristeza é irmã gêmea da melancolia, prima da desolação e do desânimo. Nos casos mais graves, vira depressão... Lembra uma árvore no outono, quando as folhas amarelam e caem, tingem a terra de cinza, para depois se transformarem em adubo... E é aí que acontece o milagre da natureza, quando o adubo vai fortalecer a árvore que formará novas folhas...

Algumas vezes a tristeza vem precedida de uma angústia inexplicável, de um aperto no peito, uma dor que não dói exatamente, mas que incomoda, silenciosa... Muitas vezes, vem junto com lágrimas involuntárias, quase inseparáveis... É aquela sensação inexplicável de desconforto, de querer ficar enrolada no cobertor por mais tempo, de não querer ouvir, nem ver ninguém...

Todavia, em outras vezes a tristeza vem sem avisar, através de um fato, ou mesmo de situações ruins que se repetem... e repentem e repetem e repetem sem solução visível... Como se a luz no fim do túnel demorasse infinitamente para iluminar a face da gente...

A vida é feita de momentos, em que a alegria e a tristeza se intercalam como crianças na gangorra. Faz parte.

Grandes expectativas, planos frustrados, aquela tão sonhada viagem adiada, os investimentos que não renderam o esperado, decepções... Que esse mundo não é um mar de rosas, todo mundo sabe. O difícil é estar preparado para o inesperado, para aquela certeza de que é preciso matar um leão por dia para sobreviver nessa selva chamada “Civilização”.

O ser humano bem que poderia ser mais humano, não é mesmo?... Menos egoísta, mais solidário, mais gente. Mais engajado. Mais interessado em fazer a diferença no mundo e fazer a sua parte para mudar o inaceitável, o inconcebível.

A chuva cai e o vento uiva lá fora, sacudindo as vidraças e as portas. Já é madrugada. Olhando da janela, dá para ver a Sombreira de folhas verdes envernizadas pela água, sacudida pelo vento, para lá e para cá, continuamente, como que se debatendo...

Mas se a alegria é caprichosa e nem sempre está presente, o jeito é buscar forças no recôndito da alma e buscar motivos para sorrir. Para espantar a tristeza de vez! Em um tapete mágico, ou no cauda de um cometa... Nas asas da imaginação, a gente levita pelo céu, com a lua e as estrelas, e cria um outro mundo onde tudo é possível, num piscar de olhos...

Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre (RS) e desde 1996 radicada em Jaraguá do Sul (SC), Brasil.

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