sábado, 4 de agosto de 2012

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POMPEIA, 10 MINUTOS ANTES




- Senhores membros do Conselho da Municipalidade, não há verbas no orçamento para o aquecimento das piscinas públicas. Todos os recursos da prefeitura foram alocados na reforma das bigas dos arrecadadores de impostos, até porque sem impostos recolhidos pontualmente não teremos dinheiro para mais nada, nem mesmo para o necessário aquecimento das piscinas.

- Questiono a colocação do Secretário de Finanças e sugiro que coloquemos em pauta uma sindicância para apurar esse repentino esvaziamento de receitas.

- A insinuação do colega é de extrema gravidade e coloca em cheque a honra...

- Um de cada vez, por favor, ordem na casa...

- Se me dão licença, quero reiterar minha opinião de que podemos, com alguns poucos milhares de moedas, implementar o projeto do engenheiro Tenório de aquecimento de água a partir da alta temperatura dos gases exalados na cratera do Vesúvio.

- Bom, pelo menos para alguma coisa esse monstro adormecido pode servir. A ideia me agrada, e não vejo porque não implementá-la nos termos expostos no projeto de lei apresentado pela bancada situacionista. Além disso, lembro aos colegas de casa que a medida tem alcance popular e estamos há poucos meses das próximas eleições.

- Alguns meses é muito tempo, o povo esquece fácil. Temos que anunciar a obra bem à véspera do pleito, para fazer a novidade render votos. Imagino que todos aqui concordam com este raciocínio.

- Nosso partido não vai compactuar com esse conchavo imoral, a menos que sejam reabertas as negociações para os cargos de segundo escalão. Nossa sigla vai emperrar tudo, caso permaneçam inflexíveis.




Os dois minutos derradeiros


- Relaxe. Jamais seremos descobertos, minha doce vereadora, todo mundo já foi embora. Morre aqui com a gente esta gentil troca de favores.

- Por César, o que não temos que fazer em benefício da coisa pública!

- Se me permite o aparte, acho que o termo correto no caso seria "coisa púbica".

- Ah, nobre representante do povo... já imaginou se entra alguém aqui agora?

- Confie em mim, só estamos nós dois no palácio. Espera aí, calma vereadora, devagar. Olha a mancha de batom na túnica...

- Esse seu vulcãozinho aí me parece mais extinto que o Vesúvio. Duvido que ele entre em erupção, ainda que lance mão de todo o arsenal erótico que tenho aqui na bolsa.

- Bom, tudo vai depender da habilidade da nobre colega de legislativo. Confio na sua capacidade empreendedora. Sinto que o chão treme quando a ilustre colega faz assim... Isso, continue.

- Que cheiro de enxofre, vereador, você está usando talco pra chulé?

- Inquestionavelmente, a vereadora sabe como quebrar o clima.

- Não me leve a mal não, coleguinha. É que o ar parece que está meio estra...

(...)


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Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
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2 comentários

andre albuquerque

Marcelo: Muito bem escrito, hilário do princípio ao fim, imagino que qualquer semelhança com alguns países abaixo da linha do Equador seja mera coincidência...Parabéns.

Marcelo Pirajá Sguassábia

Olá, André. Seu comentário é incentivo! Um grande abraço.