domingo, 12 de agosto de 2012

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O banco do jardim

Estava separado há quarto anos. Disse-me que não queria mais nada comigo. Lembro-me de ficar sozinho num banco de jardim, enquanto se afastava. Lembro-me também da longa hesitação em que me vi mergulhado. Regresso a casa ou não? E fico a dormir onde?
Já há mais de dez anos que tinha saído da aldeia e mergulhado na grande cidade. Arranjei um emprego e vivíamos numa casa alugada.
Tive de ir lá dormir.
Nos primeiros dias fiquei no sofá. No fundo ainda tinha esperança que as coisas melhorassem. Estava enganado. Desmontei, meses mais tarde o escritório e fiz o meu quarto.
Desde então passámos a ser amigos com alguma ressalva: nunca levávamos para casa as aventuras que certamente íamos vivendo. Uma espécie de pudor ergueu-se entre nós.
Foi por isso uma surpresa o dia em que entrou casa adentro com um homem pela mão, chamava-se Duarte. Começou a ficar mais tempo , até que um dia tornou-se oficial: passou a morar lá em casa.
Entendíamo-nos perfeitamente.
Eu tinha por hábito passear depois do jantar. Especialmente em dias de calor. sentava-me naquele banco do jardim de que já falei. Foi num desses dias que vi o Duarte. Acenou-me, aproximou-se.
Ficámos sentados no banco. a certa altura desatei a rir, olhei para ele. Beijou-me. Dei-lhe eu um outro beijo.
E agora? Regressamos a casa?

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