Não sem razão, Paulo Monteiro escolheu o título, Eu resisti também cantando, para seu novo livro. A consciência do autor se manifesta através dos poemas onde retrata sua resistência possível em relação aos anos de chumbo. É nesse sentido que causa efeitos semânticos e atemporais. Seus poemas cantam a própria história onde estão presentes as inquietações de quem sempre lutou pela democracia e não deixou esvair seu canto. “dizem que sou poeta não sei não / a vida é dura demais para a poesia / a vida é crua e nua demais para a poesia / a sobrevivência exige inventividade / astúcia vivacidade demais para a poesia / por isso o poema é duro cru e nu...” Paulo evoca poeticamente os anos vividos em Passo Fundo, mostra os momentos de amor; sua relação com o passado resgata os labirintos do tempo. Ele possui a poesia, como também é possuído pela lembrança na leitura de cada poema, revelando a cor do tempo. “há quantos anos não vejo / quem foi meu primeiro amor / hoje só vejo meus sonhos / pelas janelas da dor...” Tempo em que o autor cantava a palavra do tempo, agora que a história ficou no passado; no seu livro encontro o tom – além do tempo - como lembrança desejada em que podemos descobrir os olhos do poeta em vagos mistérios: as palavras se desamarram, os poemas desbravam e as histórias se encontram. O leitor é conduzido pelas reações encontradas nos registros, que (re)criam a perspectiva do tempo ao desnudar véus revelados em cicatrizes, e isto nos faz sentir pulsantes no processo da vida. A dinâmica com que o poeta se apresenta, sacode o leitor com o passado e, com a consciente leitura no presente, o envolve em várias direções: semântica, lírica, amorosa e política. Sua poesia está além do encantamento, do domínio e da sabedoria, documentada em seus “cantos de resistência” durante a ditadura militar, no tempo, no espaço e na formação da sua consciência. No amor é inspirador e ponto de convergência/sobrevivência como homenagem, como divisa do significante e do significado da vida. “olha/ que tenho marcas / de ferro nos pulsos / e nos tornozelos / não me apertes desse jeito / mulher / entre teus braços e pernas / pois as velhas cicatrizes / podem romper-se algum dia...” O poeta Paulo Monteiro é fruto da história social e individual, que alcança proporção significativa com suas memórias, e que o remete ao universo de reconhecimento enquanto ser criativo, visto ser ele professor e historiador por excelência. Também, determina novos tempos ao seguir a sua hora “interior”. Ao expor seus ideais e sentimentos, sua poesia se confunde com a vida, descrita nas indagações que ela lhe coloca: a cor do tempo.
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
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