domingo, 26 de agosto de 2012

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Pequenas histórias 14

 
 
 
 
 
 
 
 
Hoje estou mais

Hoje estou mais para imbecilidade do que para seriedade. Realmente, estou mais para escrever imbecilidade, coisa que eu sou, do que algo mais poético. Não, não adianta falarem que esse é meu destino, que se sou imbecil é porque estou pagando algo, que se estou nesse estado é por que assim deve ser e outros cambaus a quatro. Não, não sei se posso concordar com toda essa baboseira. Não tenho uma convicção sobre isso. Para acreditar quero provas, sem provas não se prende assassino. E se estou aqui nesse estado catatônico é porque sou imbecil mesmo, pois se não fosse acredito que não estaria aqui hoje nessa imbecilidade tamanha. Não tem nada com destino, com karma, com o velho deitado:
- Você tem débito de vidas passadas para pagar.
Sei lá, mas no momento nada disso me interessa. E passar uma hora ou mais, dentro de um ônibus num dorme e acorda, lendo até o sono te pegar novamente e as letras do livro sumirem quando, num alerta o subconsciente te avisa que vai roncar, e te acorda outra vez, não é de uma imbecilidade grande?!!!!!! E como!!!!! Vira de um lado não está legal vira do outro piorou, estica a perna e encolhe a perna, tenta ler mais um pouco, fecha o livro, por fim guarda o dito cujo na bolsa a tiracolo que pesa uma tonelada, pego o celular para tirar umas fotos e, guardo de novo, estico os braços para cima, vem uma ansiedade em sair do ônibus incrível. Olho pela janela, puta merda, ainda estamos na Avenida Ipiranga, que saco!!!
Nisso emparelha um ônibus não fretado. Vejo o pessoal em pé com cara de cansado e fico com inveja. Pelo menos eles têm motivos para se aborrecerem e eu, tenho? Não, não tenho, mas me aborreço, gostaria de trocar de lugar com um daquelas caras que fazem a viagem em pé. Talvez me olhando belo e confortável pensem:
- Rico, é outra coisa, isso que é moleza, quem pode, pode, quem não pode se sacode.
Mal sabiam a ansiedade que me atacava, se soubessem não ficariam com inveja, se é que estavam como poderia saber. Talvez toda essa ansiedade me venha por ter dormido mal à noite. Preocupado com o check-up que amanhã vou fazer. Coletar material e outras merdas mais. Talvez, é talvez. Passei a noite rolando na cama num acorda e dorme interrupto fora da retranca. Por fim, levantei, li uma HQ inteirinha, depois liguei a televisão, fiquei zapeando os canais e, ao passar por um, estava um filme com temática gay, onde os caras só aspiravam carreirinhas brancas e funk funk um no outro, desliguei.
Em seguida liguei o micro. Respondi os e-mails e passei a caçar figuras na net, mas logo em seguida cansei. Desliguei o tido cujo. Já estava na hora de me aprontar para cumprir com a determinação de sobreviver custe o que custar. Arrumei-me, chamei a filha, coloquei os gatos para dentro, o Thomas apareceu novamente, dei comida para eles e vinte minutos depois, estávamos entrando no fretado.
Cheguei aqui nesse soberbo edifício todo de vidro, cujas janelas, melhor dizendo, cujas persianas tampam a claridade, um pouco mais das oito horas, acho que umas oito horas e vinte minutos. Não sei também pouco me importa. Assim sendo fica aqui registrado toda essa imbecilidade esperando que todos lêem, mas se também não lerem e, nem dizer nada, se está bom ou não, também pouco me importa. Falou?


pastorelli






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