quarta-feira, 1 de agosto de 2012

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Querença

Perdi-me no deserto do vocabular. Aonde vão dar estas setas brancas, que as garças trazem todas as tardes? Vou seguir o sopro das asas, quem sabe encontre um recado de uma borboleta... Sigo adiante, afundando pegadas, nas folhas vazias de palavras. Vem chegando a noite, de ventos a poetar parênteses... Deixo a estrela da sorte derramar-se sem um pedido; se estivesse atento, lhe pediria um verso. Alvorece, nas costas da noite. O galo, na torre da igreja, confunde o sul com o norte, mas adivinha os meus pensamentos. A casa do joão-de-barro faz pender o braço direito do Cristo no cruzeiro, ele aponta o chão onde eu sempre estive. Chão de pedra..., a mesma pedra dos dias, que, sorrateira, me tampou os poros que perspiravam [o sal criativo. Sento-me no banco da praça, e calço os meus sapatos qual Curupira, quero que os olhos dos pés me guiem. Vou insistir em inventar caminhos. A boca aponta o sentido, os pés, o instinto (o ido e lido). Tropeço em buracos nos ladrilhos verdes de história. Rastelo o orvalho com os dedos e o espalho na boca para umedecer a palavra. Apesar de lidas e relidas, as brumas sabem dizer de amenidades. Esfrego em minhas mãos um punhado de terra. Terra de cheiros complexos: Sedimento de pétalas, mijo, Estrume do gado que pastou tranqüilo na madrugada. Pegadas dos homens, Que, através dos séculos, Se faziam pesadas ao chegarem ao adro, E partiam confiantes, com a bênção do DIVINO. Por detrás da janela de um dos casebres geminados, (aquele pintado com heras, entre o azul e o rosa, marcialmente enfileirados em torno da Matriz), um olhar assombrado reflete o calor que chega do leste. É um menino alado baforando sonhos úmidos na vidraça. Roubo daqueles olhos o que já foi meu; só assim abro o portal para o caminho serpenteado das palavras. Lavras Novas, Minas Gerais (Verdes Versos)

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