sábado, 22 de setembro de 2012

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CATEDRAL SUBMERSA






Devaneio ao som de La Cathédrale Engloutie, de Claude Debussy.

A verdade é que a lenda de lenda não tinha nada, pois juro sobre a Bíblia que vi a catedral engolida pelas águas, com suas ogivas góticas, seus altares e seus dezesseis sinos mudos há séculos. Ali jaz, até que razoavelmente conservado, o sacerdote de então. Ia com a missa pela metade, já que a história nos dá conta que estava na homilia quando as águas o calaram. E foi-se de estômago cheio, pois regalou-se na véspera com iguarias da Irlanda e vinhos da Normandia, trazidos por um fiel recém-chegado do velho mundo. Apesar do desencarne com o apetite satisfeito, trazia a testa franzida, como se advertisse os fiéis do dia do juízo final. Não muito longe da batina, pequenos peixes iam e vinham virando as páginas de um missal, com fecho folhado a ouro. Confessionários de ponta-cabeça, tomados por corais, bailavam sem gravidade, levando de vez em quando trombadas de tubarões. Um caco de vitral, do quinto mistério do rosário, prendia na areia a conta de água do mês. Paga após o vencimento, com multa e juros de mora.


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Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
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2 comentários

andre albuquerque

A poesia do surreal,em um grande momento.Inspirado e com imagística bela e instigante.Forte abraço.

Marcelo Pirajá Sguassábia

Oi, André. Obrigado mais uma vez pelo estímulo. Sua opinião é sempre muito valiosa. Abraços!