terça-feira, 18 de setembro de 2012

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Domingo


Eu a amava e ela a mim. Não tenho motivos para crer no contrário. Somos a prova de que o amor não é suficiente para sustentar um casamento. De fato, pensando na eternidade, talvez o amor até atrapalhe.

O que realmente degradou nosso romance foram os Domingos. No dia em que até Deus descansou, acordávamos ávidos por querer preencher nosso vazio. Vazio de existência, vazio fundamental. Um vazio que não pode e não deve ser preenchido.

Não sabíamos de nada disso. Corríamos afoitos, de um lado a outro:

"Me passa a manteiga?"

"Açúcar ou adoçante?"

"Tênis de corrida".

"Acha que chove?"

"Aterro do Flamengo".

Andar, correr, suar, nada dá conta. "Vamos comer" - comer preenche.

Camarão, picanha, omelete, sorvete. Prazeres com gosto de plástico. Mal comemos e já é noite, mas ainda não anoiteceu. O dia acaba, mas ainda não acabou. Temos de nos aturar.

"Televisão?"

"..."

Então o sono vem, mas não nos deixa dormir. Acabou o final de semana, hora de voltar ao real. Segunda-feira é o pior dia da semana. E foi isso que destruiu nosso casamento. O pior dia da semana era o meu favorito.

2 comentários

andre albuquerque

O cotidiano desgastante e filho do tempo.Parabéns.

Eduardo Ferreira Moura

Filho, pai, o próprio....

Fico feliz que tenha gostado!

Abraço!