domingo, 2 de setembro de 2012

2

Fome

- Imagem: Lucian Freud


Ele disse que estava faminto, que essa sua fome o consumia o corpo, ali onde só a presença um do outro não abarcaria esse anseio todo. Sua pele era curtida do sol, um bronzeado castigado, me lembrava até a de um retirante, com seu fado sobre o espinhaço, pelejando com Deus a própria sobrevivência. Lá fora ardia o sol. E de pensá-lo, assim, alheia que eu estava, esmorecia e queria desabar, feito corpo morto. Não sei se digo algo, ou se me deixo antever no precipício que eu imaginava perigar, mas esse homem que aí vem, a pele recendindo a água de mar, o sorriso na boca, esse homem aí vem e me ampara o corpo e diz também padecer dessa fome. Que  eu não me privasse, pelo contrário, que eu me agarrasse à vida com aquele ardor. Diz isso e me beija, o beijo salgado de um banhista à beira-mar. Tudo sob esse teto, uma tarde quente de segunda-feira. O dia lá fora a arder em brisa nenhuma. Alguém se queixa, a vida parece mesmo ruir. E cá dentro esse homem me penetra a carne, cada vez mais fundo, com a força de quem tem tudo prestes a se perder. Gozo duas, três vezes sob esse seu corpo suado. E algo em mim se esvai, de modo a me deixar ali, exausta...

2 comentários

andre albuquerque

Conciso,direto ao alvo; a poesia lúbrica do desejo.Parabéns.

Fábio de Souza

Que bom que tenha gostado, André. Fico muito felir com seu comentário, certeiro. Um abraço. até a próxima.