- Imagem: Lucian Freud
Ele disse que
estava faminto, que essa sua fome o consumia o corpo, ali onde só a presença um
do outro não abarcaria esse anseio todo. Sua pele era curtida do sol, um
bronzeado castigado, me lembrava até a de um retirante, com seu fado sobre o
espinhaço, pelejando com Deus a própria sobrevivência. Lá fora ardia o sol. E
de pensá-lo, assim, alheia que eu estava, esmorecia e queria desabar, feito
corpo morto. Não sei se digo algo, ou se me deixo antever no precipício que eu
imaginava perigar, mas esse homem que aí vem, a pele recendindo a água de mar,
o sorriso na boca, esse homem aí vem e me ampara o corpo e diz também padecer
dessa fome. Que eu não me privasse, pelo
contrário, que eu me agarrasse à vida com aquele ardor. Diz isso e me beija, o
beijo salgado de um banhista à beira-mar. Tudo sob esse teto, uma tarde quente
de segunda-feira. O dia lá fora a arder em brisa nenhuma. Alguém se queixa, a
vida parece mesmo ruir. E cá dentro esse homem me penetra a carne, cada vez
mais fundo, com a força de quem tem tudo prestes a se perder. Gozo duas, três
vezes sob esse seu corpo suado. E algo em mim se esvai, de modo a me deixar
ali, exausta...
2 comentários
Conciso,direto ao alvo; a poesia lúbrica do desejo.Parabéns.
Que bom que tenha gostado, André. Fico muito felir com seu comentário, certeiro. Um abraço. até a próxima.
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