Quando ele soube que o crânio matava quem o recebia de presente, não pensou duas vezes: era a sua oportunidade!
Certificou-se com o vendedor sobre a eficácia do negócio:
— Não falha! — apressou-se o homem em garantir a qualidade do seu produto. — Ganhou, morreu! Eu comprei essa peça, assim como o senhor vai fazer agora. Não corremos risco, portanto. Coitado é de quem ganhar...
Coitada. Era chegada a hora de despachá-la desta para melhor. Mandá-la de volta ao inferno, que era de onde jamais deveria ter saído.
Ele saiu da loja, feliz — com o crânio maldito cuidadosamente acondicionado numa caixa de veludo negro.
***
— Presentinho! — ele disse, os olhos brilhando de estranha satisfação.
A mulher abriu a caixa e conferiu o conteúdo. Bonito crânio, cristal fino — mas um presente de extremo mau gosto.
— Obrigada — ela respondeu. — Horrível.
Ele não ouviu as palavras da mulher. O serviço estava feito.
***
Ela já conhecia a história daquela peça. E suspeitava também das intenções do homem. Precisava agir rápido, portanto, antes que a maldição a atingisse.
— Tenho um presente para você — o menino recebeu a caixa e sorriu. — Mas esse é um segredo nosso. Não conte para o seu pai que eu te dei.
***
Uma semana depois de ter dado o presente à mulher, ele voltou à loja para reclamar.
— O crânio funciona, sim! — protestou o vendedor, indignado. — Só é preciso esperar.
O homem voltou para casa, apreensivo. Sua mulher era astuta — do que seria capaz?
— Cheguei — disse ele ao abrir a porta. O silêncio foi a resposta.
Seguro de que a maldição tinha funcionado, ele subiu até o seu quarto. Ao contrário do que esperava, não encontrou o corpo da mulher na cama — encontrou apenas um bilhete:
Seu filho adorou muito o presente que lhe dei. Pena que não tenha tido tempo para curtir o que ganhou.
O homem pensou em gritar, mas não tinha mais voz. Não tinha mais nada, afinal.
1 Comentário
Parreira, sempre me divirto muito com seus textos repletos de humor.
Aproveito para agradecer sua visita e a gentileza de suas palavras.
Abraços
Márcia
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