Levantei-me
Levantei-me da cama sem poder... Diz uma bela composição de Nelson Cavaquinho, mas não me levantei da cama e, sim, levantei-me da poltrona do fretado no maior aperto da história desses que no momento escreve essas traçadas tortas linhas. Levantei-me foi da poltrona várias vezes. Não conseguia ficar sentado, fiquei em pé, procurei me concentrar na leitura de Nemesis, da Agatha Cristhie, tentei cochilar, por fim, tomei a iniciativa e fui falar com o André, o coordenado do fretado.
- André, por favor.
- Sim, - respondeu ele sonolento – o que foi?
- O banheiro ta funcionando?
- Não está fechado.
- Ah! Está bem, obrigado.
Voltei para o meu lugar. Estava ficando verde, roxo, lilás, branco, já me via todo urinado, a calça jeans com aquela manchona escura delatando minha urinada. O ônibus passa pela Senador de Queiroz. Puta merda, ainda tinha chão pela frente. Ele passaria pela República, pegaria a Ipiranga, depois a Consolação, e, como estava o transito já me via todo urinado.
- Por favor, pode parar na República?
- Mas você não desce no Conjunto Nacional? – perguntou o motorista.
- Sim, desço, mas é que hoje é excepcional.
- Está bem, já paro. Aconteceu alguma coisa?
- Não é que preciso fazer ultra-som da próstata e eu tive que beber água, seis copos, e bebi apenas quatro, e agora estou arrebentado para urinar.
- Vixe. Está certo, desce aí.
- Obrigado.
Desci e em passos rápidos, quase correndo, desci as escadas do metrô imaginando se o banheiro estaria ou não aberto. Felizmente estava aberto. Urinei um pouco para aliviar a pressão. Desci as escadas e fui para a plataforma tomar o metrô para a Consolação. Por sorte encontrei um banco cinza. Um pulinho depois estava descendo no metrô Consolação. Desci a Rua Augusta mais rápido que uma flecha. Emburrei a porta de vidro, peguei a senha: 144.
- Por favor?
- Sim.
- Pode me atender agora?
- Não posso, tem esperar sua senha.
- É que tenho hora marcada para ultra-som e tive que tomar seis copos de água, o que consegui foi tomar quatro, e, assim mesmo, to com a bexiga estourando, precisei até parar no meio do caminho para urinar um pouco...
- Está com a bexiga vazia.
- Não, não estou, estou é quase urinando nas calças.
- Sinto muito, tem que esperar chamar sua senha.
- Olha você não está entendendo. Se eu ficar mais um segundo aqui esperando vou urinar nas calças e depois será você que vai ter que limpar, entende?
- Está bem. Não posso fazer isso, não diga para ninguém.
- Pode ficar sossegado.
Depois de alguns segundos.
- Pronto, pode ir para lá e esperar te chamarem.
- Obrigado. Quando você casar o marido será seu.
- Já sou casada.
- Então que seja feliz, mas cuidado com o vizinho sarado, viu?
- Ahah, pode deixar.
- Seu lugar já está reservado no céu.
- Vai demorar muito tempo ainda.
- Faço votos que sim.
Dirigi-me ao local indicado por ela. Desesperado, andando de um lado para o outro, eu que nunca fui de rezar, rezava para que me chamassem logo. O que não foi feito assim de imediato. Meio segundos depois, minha senha gritava no luminoso. Dirigi-me ao local indicado.
- Seu Osvaldo.
- Sim.
- Entre, desabotoei a braguilha e deite na maca.
- Por favor, posso urinar primeiro?
- Não pode, tem que estar com a bexiga cheia.
- Te garanto que ela está tremendamente cheia, só vou me aliviar um pouco senão urinarei na maca, isso porque não tomei os seis copos de água que disseram para beber, bebi apenas quatro.
- Tudo bem.
Assim fiz. Alivie-me um pouco. Deitei na maca a espera do doutor.
- Bom dia, seu Osvaldo.
- Bom dia, Doutor.
- E aí, está com a bexiga cheia?
- Até demais, Doutor.
- Isso é bom.
Examinou-me, mexeu no micro, imprimiu, passou o gel no aparelho e o aparelho que mais parecia um pequeno escâner de mão, passou na minha barriga, não é na barriga, foi logo abaixo do umbigo. Assim que terminou.
- Pronto, seu Osvaldo. Está livre, pode ir.
- Alguma alteração, Doutor?
- Sim, mas não fique preocupado, nada grave. A alteração que teve é por causa da idade. Aqui está o protocolo.
- Obrigado Doutor.
- Passe bem.
- Obrigado.
Sai do laboratório. Sentia-me não eu, isto é, sentia como se eu fosse eu, mas alguma coisa me dizia que havia algo diferente. Não sei se me entendem. Era eu que saí do laboratório e, ao mesmo tempo, sendo eu não me sentia eu, me sentia eu, mas com algo novo, não, novo não... É difícil explicar, dar uma idéia. Bom, nada poderei fazer a não ser esperar.
pastorelli
Levantei-me da cama sem poder... Diz uma bela composição de Nelson Cavaquinho, mas não me levantei da cama e, sim, levantei-me da poltrona do fretado no maior aperto da história desses que no momento escreve essas traçadas tortas linhas. Levantei-me foi da poltrona várias vezes. Não conseguia ficar sentado, fiquei em pé, procurei me concentrar na leitura de Nemesis, da Agatha Cristhie, tentei cochilar, por fim, tomei a iniciativa e fui falar com o André, o coordenado do fretado.
- André, por favor.
- Sim, - respondeu ele sonolento – o que foi?
- O banheiro ta funcionando?
- Não está fechado.
- Ah! Está bem, obrigado.
Voltei para o meu lugar. Estava ficando verde, roxo, lilás, branco, já me via todo urinado, a calça jeans com aquela manchona escura delatando minha urinada. O ônibus passa pela Senador de Queiroz. Puta merda, ainda tinha chão pela frente. Ele passaria pela República, pegaria a Ipiranga, depois a Consolação, e, como estava o transito já me via todo urinado.
- Por favor, pode parar na República?
- Mas você não desce no Conjunto Nacional? – perguntou o motorista.
- Sim, desço, mas é que hoje é excepcional.
- Está bem, já paro. Aconteceu alguma coisa?
- Não é que preciso fazer ultra-som da próstata e eu tive que beber água, seis copos, e bebi apenas quatro, e agora estou arrebentado para urinar.
- Vixe. Está certo, desce aí.
- Obrigado.
Desci e em passos rápidos, quase correndo, desci as escadas do metrô imaginando se o banheiro estaria ou não aberto. Felizmente estava aberto. Urinei um pouco para aliviar a pressão. Desci as escadas e fui para a plataforma tomar o metrô para a Consolação. Por sorte encontrei um banco cinza. Um pulinho depois estava descendo no metrô Consolação. Desci a Rua Augusta mais rápido que uma flecha. Emburrei a porta de vidro, peguei a senha: 144.
- Por favor?
- Sim.
- Pode me atender agora?
- Não posso, tem esperar sua senha.
- É que tenho hora marcada para ultra-som e tive que tomar seis copos de água, o que consegui foi tomar quatro, e, assim mesmo, to com a bexiga estourando, precisei até parar no meio do caminho para urinar um pouco...
- Está com a bexiga vazia.
- Não, não estou, estou é quase urinando nas calças.
- Sinto muito, tem que esperar chamar sua senha.
- Olha você não está entendendo. Se eu ficar mais um segundo aqui esperando vou urinar nas calças e depois será você que vai ter que limpar, entende?
- Está bem. Não posso fazer isso, não diga para ninguém.
- Pode ficar sossegado.
Depois de alguns segundos.
- Pronto, pode ir para lá e esperar te chamarem.
- Obrigado. Quando você casar o marido será seu.
- Já sou casada.
- Então que seja feliz, mas cuidado com o vizinho sarado, viu?
- Ahah, pode deixar.
- Seu lugar já está reservado no céu.
- Vai demorar muito tempo ainda.
- Faço votos que sim.
Dirigi-me ao local indicado por ela. Desesperado, andando de um lado para o outro, eu que nunca fui de rezar, rezava para que me chamassem logo. O que não foi feito assim de imediato. Meio segundos depois, minha senha gritava no luminoso. Dirigi-me ao local indicado.
- Seu Osvaldo.
- Sim.
- Entre, desabotoei a braguilha e deite na maca.
- Por favor, posso urinar primeiro?
- Não pode, tem que estar com a bexiga cheia.
- Te garanto que ela está tremendamente cheia, só vou me aliviar um pouco senão urinarei na maca, isso porque não tomei os seis copos de água que disseram para beber, bebi apenas quatro.
- Tudo bem.
Assim fiz. Alivie-me um pouco. Deitei na maca a espera do doutor.
- Bom dia, seu Osvaldo.
- Bom dia, Doutor.
- E aí, está com a bexiga cheia?
- Até demais, Doutor.
- Isso é bom.
Examinou-me, mexeu no micro, imprimiu, passou o gel no aparelho e o aparelho que mais parecia um pequeno escâner de mão, passou na minha barriga, não é na barriga, foi logo abaixo do umbigo. Assim que terminou.
- Pronto, seu Osvaldo. Está livre, pode ir.
- Alguma alteração, Doutor?
- Sim, mas não fique preocupado, nada grave. A alteração que teve é por causa da idade. Aqui está o protocolo.
- Obrigado Doutor.
- Passe bem.
- Obrigado.
Sai do laboratório. Sentia-me não eu, isto é, sentia como se eu fosse eu, mas alguma coisa me dizia que havia algo diferente. Não sei se me entendem. Era eu que saí do laboratório e, ao mesmo tempo, sendo eu não me sentia eu, me sentia eu, mas com algo novo, não, novo não... É difícil explicar, dar uma idéia. Bom, nada poderei fazer a não ser esperar.
pastorelli
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