Nestes
nossos dias orientados para a morte, espero por alguém que dê amparo, carinho, e
vem você me vilipendiar. Dá-me porrada na cara, diz que sou vagabundo, desatento
ao de valor; diz-me das coisas de um mundo mensurado em garoupas, onças
pintadas, micos-leões-dourados, araras, garças, tartarugas e beija-flores apenas
– tamanha a tua insensatez. Logo eu, consciencioso do trajeto das formigas
sobre a pia da cozinha, que reconheço a natureza prismática da luz refletida em
sete cores nas gotículas do chuveiro. Vem você e me pede atenção ao subliminar.
Pois saiba que te dou com os para-choques de minha inconsciência, que são feitos
para bater e amortizar as dores da alma. Estou a fitar os sorrisos nos rostos
das crianças, eu sinto o vento na minha cara, eu assisto ao remoinho no levitar
despedaçado de um dente-de-leão. E não adianta esconderes em tua máscara último
tipo, porque a chuva que depreende de minha nuvem ainda atravessa o teu para-brisa.
É fria e inexorável a realidade final do teu jazigo, aquele que você paga em
suaves prestações; e também sou desatento a isso, você bem o sabe. Mais atenção
ao subliminar. Minha vala nada vale posto que fica muito além da tua: acredito
na derrocada da carne ante aquela do espírito. Acredito no brilho das estrelas,
em caudas de cometas, na sombra de uma palmeira. Rogo pregas ao teu toba, que
você inche, exploda junto à merda do capitalismo. E atenção ao sublimar!
2 comentários
...e que a vala comum dos dias,acalente o rancor do tempo, pois "a consciência nos faz covardes".Belo texto.Forte abraço,meu amigo.
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