domingo, 7 de outubro de 2012

0

Compensação - Capítulo VI


 
Após o trabalho de enterro de meu Patrão, subimos nos barcos e nos dirigimos para uma ilha próxima onde acampamos na praia. Ali conversei com os rapazes, disse-lhes que na minha bolsa preta havia dinheiro suficiente para que nós quatro vivêssemos ricos para sempre. Dividiríamos a grana, e cada um seguiria por um lado da vida, mas eles tinham de prometer que deixariam aquela vida de marginais. Enquanto conversávamos, devido já estar escuro, não percebemos alguns policiais aproximarem-se. Foi um dos capangas que viu e disse: "Corram. Ai vem a polícia" e saíram os três em disparada em direção ao matagal que ficava atrás de nós. Eu corri em direção a uma rocha, carregando a mala preta com o dinheiro. Atrás da rocha havia uma espécie de gruta, entrei nela e segui correndo pela trilha que havia dentro do que achava fosse uma caverna. Continuei correndo até chegar a uma parte um pouco mais larga, embora estivesse muito escuro, percebi o ambiente maior porque meus braços já não alcançavam a parede de pedra quando caminhava. Agachei-me e fiquei escutando. Não ouvia nada. Estava tudo muito quieto. Com o tempo os olhos foram acostumando com a escuridão e pude verificar que a trilha ia adiante. Segui então, a trilha meio aos trancos e barrancos, vendo pouca coisa no caminho. Andei por quinze horas, até ver que a trilha terminava em uma praia. Percebi o sol no final do caminho. Com cautela, muito cansado, com sede, fome, me dirigi até o final do túnel, e verifiquei o que havia lá fora. Na praia, muitas pessoas caminhavam conversando alegres, nos quiosques com cobertura de palha serviam bebidas e sucos, crianças brincavam. Olhei novamente com atenção, e percebi que havia atravessado a ilha pelo túnel. Era de manhã! Quinze horas caminhando no escuro me deixaram com os olhos sensíveis. Abria e fechava as pálpebras com insistência para acostumar com a claridade daquela manhã radiosa. Saí para a praia, fui tomar um suco em uma das barracas. Devia estar com péssima aparência, todas as pessoas olhavam para o lado ao me avistarem. O servente da barraca serviu o suco que pedi olhando-me de soslaio. Um jornaleiro passou, pedi um jornal. Lá estava bem grande na manchete: "Desbaratada quadrilha de traficantes." E mais adiante a noticia toda da invasão da nossa casa, todos estavam mortos. No entanto, o chefe da quadrilha estava desaparecido, ninguém sabe se ele realmente estava na casa na hora da invasão, pois não foi encontrado o corpo, e com certeza estaria fora da mansão. A polícia afirmava não haver como sair sem ser visto, porque a mansão estava cercada por terra e por ar. Sorri e pensei: “inteligente era o meu patrão, nunca descobriram a passagem secreta, nem poderiam, era realmente muito engenhosa, mas o que não sabiam os repórteres, é que ele estava morto mesmo. Sem tiros, pela velhice de seu coração senil. O patrão tinha 87 anos”.

Seja o primeiro a comentar: