Após
o trabalho de enterro de meu Patrão, subimos nos barcos e nos dirigimos para
uma ilha próxima onde acampamos na praia. Ali conversei com os rapazes,
disse-lhes que na minha bolsa preta havia dinheiro suficiente para que nós
quatro vivêssemos ricos para sempre. Dividiríamos a grana, e cada um seguiria
por um lado da vida, mas eles tinham de prometer que deixariam aquela vida de
marginais. Enquanto conversávamos, devido já estar escuro, não percebemos
alguns policiais aproximarem-se. Foi um dos capangas que viu e disse:
"Corram. Ai vem a polícia" e saíram os três em disparada em direção
ao matagal que ficava atrás de nós. Eu corri em direção a uma rocha, carregando
a mala preta com o dinheiro. Atrás da rocha havia uma espécie de gruta, entrei nela
e segui correndo pela trilha que havia dentro do que achava fosse uma caverna.
Continuei correndo até chegar a uma parte um pouco mais larga, embora estivesse
muito escuro, percebi o ambiente maior porque meus braços já não alcançavam a
parede de pedra quando caminhava. Agachei-me e fiquei escutando. Não ouvia nada.
Estava tudo muito quieto. Com o tempo os olhos foram acostumando com a
escuridão e pude verificar que a trilha ia adiante. Segui então, a trilha meio
aos trancos e barrancos, vendo pouca coisa no caminho. Andei por quinze horas, até
ver que a trilha terminava em uma praia. Percebi o sol no final do caminho. Com
cautela, muito cansado, com sede, fome, me dirigi até o final do túnel, e
verifiquei o que havia lá fora. Na praia, muitas pessoas caminhavam conversando
alegres, nos quiosques com cobertura de palha serviam bebidas e sucos, crianças
brincavam. Olhei novamente com atenção, e percebi que havia atravessado a ilha
pelo túnel. Era de manhã! Quinze horas caminhando no escuro me deixaram com os
olhos sensíveis. Abria e fechava as pálpebras com insistência para acostumar
com a claridade daquela manhã radiosa. Saí para a praia, fui tomar um suco em
uma das barracas. Devia estar com péssima aparência, todas as pessoas olhavam
para o lado ao me avistarem. O servente da barraca serviu o suco que pedi olhando-me
de soslaio. Um jornaleiro passou, pedi um jornal. Lá estava bem grande na
manchete: "Desbaratada quadrilha de traficantes." E mais adiante a
noticia toda da invasão da nossa casa, todos estavam mortos. No entanto, o
chefe da quadrilha estava desaparecido, ninguém sabe se ele realmente estava na
casa na hora da invasão, pois não foi encontrado o corpo, e com certeza estaria
fora da mansão. A polícia afirmava não haver como sair sem ser visto, porque a
mansão estava cercada por terra e por ar. Sorri e pensei: “inteligente era o
meu patrão, nunca descobriram a passagem secreta, nem poderiam, era realmente
muito engenhosa, mas o que não sabiam os repórteres, é que ele estava morto
mesmo. Sem tiros, pela velhice de seu coração senil. O patrão tinha 87 anos”.
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