O CARRO DO SOL
LUNA
1.
A noite caia. As primeiras estrelas conheciam
o céu e a meia lua levantava sua calda amarela. Envolvida com o bom humor da
tarde na suavidade das longilíneas árvores, Mona estendia seu passeio. Sentia
dificuldade em encontrar a trilha do Mosteiro. Era raro, naqueles bosques, o
anunciar de uma noite aberta, clara, esquecida de brumas e orações. O horizonte
parecia desvendar-se para além das copas, alegre por servir o coro e acompanhar
a moça.
Aquele era um meio de serenos, de bons ouvintes, de capuzes e frestas
armadas nas longas catedrais. Homens e mulheres viviam de si o mais tênue,
creditando às árvores de comprido feitio um princípio seguro de abstração e
adequação. Eram enfiados em meditações e ângulos nas suas celas ou nas cabanas,
nos oratórios ou nas lavouras. A neblina,
que se iniciava nas madrugadas e rompia o amanhecer, era quase que o trato da
alma comum com um desejo sinuoso e magro de abstração, de redenção. Era ali o
cálice do pensamento. Abstinha-se da exuberância para buscar uma clarividência
de pastor. Um reino feito para monges e dedicados.
Mona podia, sem muito esforço, ouvir o vaivém de crianças e lenhadores
da comunidade da parte baixa. Mesmo sabendo
que ia em direção errada, não queria tomar outro caminho. Esta noite parecia
mais nua, bem mais simples, tão menina quanto ela mesma, e mais que tudo,
alegre, curiosa, perfumada.
Queria penetra-la, descobrir de que ventos se fizera. Enquanto percebeu
alguma luz deixou-se levar. A lua – e devia ser dela esse estremecimento de
noite namorada – aparecia cada vez mais larga, amarela, confiante.
Foi se aproximando de uma cabana aonde costumava ir sozinha ou na companhia
de amigos.
- Posso passar a noite ali, não
terei medo.
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