sexta-feira, 5 de outubro de 2012

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Pequenas histórias 22

 
 
 
 
 
 
 
 Sagitta 2

“Conseguirei completar meu caminho?” Era a pergunta mais freqüente em que procurava acreditar e, Ingênuo, acreditava. Acreditava porque todo o dia abria os olhos e contemplava o azul escuro sem estrelas do teto do quarto. Não via nisso um milagre. Não acreditava em milagre. E porque deveria? Só porque estava no planeta Terra e o planeta Terra entre constelações e nebulosas? Só porque os mistérios existem e precisam ser revelados? Ou quem sabe, decifrados? Tudo isso e muito mais, disse reconhecendo o trabalho árduo que tinha à frente. Tinha uma arma. O grito. O grito mudo saindo da garganta ganhando a vastidão do vazio seco como deserto. Usava o grito, nem sempre positivamente. Isto é, seu grito apesar de amplo e vasto, se convertia de positivo a negativo. Quer dizer, era interpretado dessa maneira. Mesmo assim, não deixava de gritar toda vez que achava que deveria. Reconhecia. O grito saia às vezes, fraco, seco, sem eco, outras vezes, sonoro não alcançava o objetivo. Por isso, do seu canto fitava o vazio das pessoas estudando cada gesto, cada movimento, cada frase, para depois codificar em seu intimo o significado. Nem sempre justificável. Por isso, agia incrédulo diante da face egocêntrica povoando seu caminho. Desviava dessas faces como desviava da futilidade onde, no livre arbítrio, cada um achava seu canto mórfico e ali se aquietava. Não poderia se aquietar tinha uma missão a cumprir. Seguir a flecha lançada no espaço da existência em que ele pisava com cuidado. A flecha seguia seu curso predestinado, e seguindo-a corria perigo, durante o caminho se desvirtuar e cair no anonimato de um sentir fútil, levando-o a despencar no abismo de sentir ele mesmo queimando no fogo das palavras. Ah! Sorrio intimamente, conseguirei, sim, disse para si mesmo.

Pastorelli

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