domingo, 18 de novembro de 2012

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A urna, Rui Tinoco

O papá e a mamã andavam tristes. Iam todos os dias para o hospital, mas as notícias não eram boas. A doença do avô teimava em não passar. Lembro-me depois de um telefonema: a mamã desatou aos gritos e o papá foi para a varanda fumar.

Nesse dia fui dormir a casa de uma primas. Diverti-me imenso mas queria estar triste não sei porquê.

Quando regressei a casa, ninguém queria falar da doença do avô. Chegaram-me a gritar quando insisti um pouco mais sobre o assunto.

Costumava brincar no escritório do papá. Reparei, dias depois, num estranho vaso, de pedra escura. Era imensamente pesado. Perguntei à mamã o que aquilo era, respondeu em voz alta:

- Vês, vês… agora responde-lhe tu… - mas o papá saiu de casa visivelmente perturbado.

Nessa tarde consegui abrir o vaso e, sem ninguém ver, pus a mão la dentro. Um estranho pó cinzento, de estranho cheiro, meteu-se-me entre os dedos.
É hoje: o papá vai ter de me explicar o motivo de todo alarido por causa de um simples pó.

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