O papá e a mamã andavam tristes. Iam todos os dias para o
hospital, mas as notícias não eram boas. A doença do avô teimava em não passar.
Lembro-me depois de um telefonema: a mamã desatou aos gritos e o papá foi para
a varanda fumar.
Nesse dia fui dormir a casa de uma primas. Diverti-me imenso
mas queria estar triste não sei porquê.
Quando regressei a casa, ninguém queria falar da doença do
avô. Chegaram-me a gritar quando insisti um pouco mais sobre o assunto.
Costumava brincar no escritório do papá. Reparei, dias depois, num
estranho vaso, de pedra escura. Era imensamente pesado. Perguntei à mamã o que
aquilo era, respondeu em voz alta:
- Vês, vês… agora responde-lhe tu… - mas o papá saiu de casa
visivelmente perturbado.
Nessa tarde consegui abrir o vaso e, sem ninguém ver, pus a
mão la dentro. Um estranho pó cinzento, de estranho cheiro, meteu-se-me entre
os dedos.
É hoje: o papá vai ter de me explicar o motivo de todo
alarido por causa de um simples pó.
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