terça-feira, 4 de dezembro de 2012

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A ascensão que vem da queda

“há uma estrada ao norte de Santo Antônio de Pádua que não se encontra em mapas rodoviários, tratados cartográficos ou certidões de domínio.”

“são trechos indefinidos, frases interrompidas, incompreensões, símbolos. a única certeza é que a estrada muda.”

Eu conheci Sérgio Tavares no último dia 27 de novembro, por ocasião do lançamento de seu segundo livro “Queda da própria altura”, no Teatro Municipal de Niterói.

Sérgio Tavares é natural de Niterói – RJ, onde nasceu em 1978. É jornalista e escritor, autor de Cavala (Record, 2010), vencedor do Prêmio Sesc Nacional de Literatura, ano de 2009, na categoria conto.

“Queda da própria altura” traz sete contos ao longo de suas duzentas e quarenta e quatro páginas. Estes sete contos encontram-se aninhados em três movimentos, denominados respectivamente: “Impulso”, “Voo” e “Queda”. Cada um desses movimentos, por sua vez, contém um preâmbulo, resultando em contos adicionais. Apresenta-se, portanto, um total de dez textos, além de um breve epílogo.

Passei a semana toda em companhia de “Queda...”. Aprecio a leitura lenta, reflexiva, cuidadosa, atenta aos detalhes. Gosto de sublinhar minhas passagens prediletas e ir fazendo anotações ás margens. Confesso que, ao final do processo, eram tantos desses trechos; se fosse reproduzi-los aqui, este texto estaria mais para um resumo da obra do que propriamente um artigo sobre a mesma.

Os contos de Sérgio Tavares, narrados em primeira pessoa, têm como principais características a forte carga emotiva e o lirismo. Ao longo das narrativas as personagens revelam grande humanidade e suas impressões ante os eventos marcantes de uma existência comum – estas servem como poderosas âncoras para a identificação do leitor.

A minha seleção de contos, em ordem decrescente, é a seguinte: “Hera”, “Ofélia”, “Evolam-se os barcos” e “Sono”. Mas sei que isso é muito pessoal. Fica a minha recomendação de que você faça a sua própria lista.

“há uma árvore (se realmente há uma árvore é uma acácia-negra) que viceja em contratempo. registros afirmam que sempre aparece à margem direita da estrada, vaidosa, com os galhos tortos devido ao obstinado desvelo de não perder uma folha sequer.”

“num dia terrível de dezembro, quando o sol circunda a copa e projeta uma longa sombra à margem esquerda, abre-se um buraco negro que traga o descuido de quem, em queda livre, desaparece na memória das pessoas que prezam.”

“todas elas.”

Sérgio Tavares, Queda da própria altura, 244p, Confraria do Vento, ISBN 978-85-60676-59-0, Rio de Janeiro, 2012.




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