sábado, 29 de dezembro de 2012

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Enganos da Vida - Capítulo IX

Tirando-me desses pensamentos retrospectivos, Rafael entra em minha cela improvisada.
– Como passou seus dias nesse confinamento?
– Bem, a medida do possível.  E você ainda está trabalhando no banco?
Ele riu.
– Não, claro. Estou agora no encalço do chefe da quadrilha. Por isso tenho me transformado, ora em menino de recados, ora em gerente de vendas, hoje sou um mero desocupado a espera de instruções. Por isso fugi e vim verificar como andam as coisas por aqui, e para dizer que o mais tardar no final dessa semana você poderá sair daqui e ir para sua casa. Que precisa de uma boa reforma, diga-se de passagem. Mas já estamos providenciando isso com a seguradora. Seu marido e eu. Dizendo isso, ele riu alto, e depois se aproximou e falou em meu ouvido:
– Você não vai acreditar, mas Fábio pensa ser seu herdeiro, vai ser uma decepção e tanto, não? Mas não fique triste, a cadeia vai lhe dar tudo de graça por um bom tempo. – e riu mais uma vez.
Quando Rafael saiu, pensei como ele tem um sorriso lindo. Agora olhei para os olhos, são castanhos como os cabelos. Nada especiais, mas francos e alegres. Ao sair ele piscou para o meu lado e disse:
– Até mais! Volto para levá-la até sua casa.
Passaram-se dois dias. E a quase cela abriu-se para dar passagem a outro personagem novo no pedaço. Até agora era a terceira pessoa que entrava ali. A provedora de meu sustento, Rafael e esse moço simpático.
– Bom dia! – disse – sou Roberto e vim para levá-la até sua casa.
Imediatamente pulei da cadeira em que estava sentada, e feliz da vida perguntei:
– Mesmo?
E rapidamente, antes que mudassem de ideia, juntei minhas coisas em uma sacola e fui me colocando à sua disposição.
Saímos da casa onde estava confinada e nos dirigimos até um carro estacionado na entrada da garagem. No carro perguntei:
– Tudo concluído? Conseguiram prender a quadrilha? E Rafael?
– Prendemos todos. Inclusive o chefe. Houve algumas baixas, tanto dos bandidos como dos nossos. Mas em uma ação deste porte, sempre acontece assim. Já se sabe de antemão o que vai acontecer.
Tornei a perguntar:
– E Rafael?
– Bem, quando os bandidos descobriram que ele era policial, o executaram ali mesmo na sala onde estavam, isto é, em sua casa. Desculpe. Mas você perguntou.
Minha alegria em sair do meu suposto cativeiro terminou nesse instante. Rafael estava morto? Ele salvou minha vida, não podia morrer. Fiquei por vários minutos muda, com os olhos escorrendo lágrimas de verdadeiro pesar. Um jovem bonito, cheio de vida, com dignidade suficiente para dar e vender, foi morto em minha casa?
– Em minha casa? – perguntei.
– É. Era lá que ele ficava com seu marido, era um álibi e esconderijo perfeito para os dois.
– E minha casa?
– Ainda está uma bagunça. Mas o seguro está providenciando a reforma. Afinal você foi tão enganada quanto o resto. Mas isso será resolvido. Fique tranquila.
– Não quero ir para lá agora. Pode deixar-me em outro endereço?
– Sim, claro, é só dizer.

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