O Fim do Mundo
®Lílian Maial
Faltam poucos para o fim do
mundo, segundo o calendário maia.
Mas por que diabos nos
importaríamos com o calendário maia? Os maias foram um povo de grande desenvolvimento
histórico, como também o foram os egípcios, os assírios, os gregos, os etruscos,
os celtas e tantos outros que, com a evolução, as guerras, as epidemias, as alterações
climáticas, tenderam a sucumbir diante de novas civilizações.
Muito embora não acate o fim
do mundo maia, previsto para o dia 21 de dezembro próximo, preocupa-me,
sobremaneira, não o fim do mundo, mas o fim da humanidade.
Karl Marx, em "A Ideologia Alemã", afirma que um
aspecto da atividade social que fundamenta a história é a tendência das pessoas
a agir de forma a satisfazer as suas necessidades e, daí em diante, gerar novas
necessidades. Para Marx, é o que impulsiona a contínua expansão da capacidade
produtiva na civilização humana.
Já de acordo com Freud, atrás da luta de classes de Marx, ergue-se
o conflito entre pai e filho, entre um clã estabelecido e um desafiador rebelde.
E no que nos tornamos, afinal? Qualquer que seja o pensador, sabemos
que não há igualdade entre os seres humanos e que a motivação pode variar.
Então, Marx estaria certo: o que se quer é satisfazer as
necessidades e, por conseguinte, acabamos por criar outras. Os mais jovens
sempre desafiam os mais velhos e pretendem ocupar seu lugar na sociedade. Mas
onde ficam: a moral, a ética, as normas sociais?
Não faz muito tempo, um homem não ocuparia o lugar numa
condução, enquanto houvesse uma senhora de pé. Os pais não abandonariam os
filhos ou os negligenciariam por nada. Não se permitiria o crescimento das
crianças sem regras, sem horários estabelecidos, sem observação de suas companhias.
Talvez as famílias fossem mais estáveis, ou as tais
necessidades vivessem ocultas sob o manto da subserviência, notadamente no caso
das mulheres, que acabavam por ficar em casa cuidando dos filhos, sem o direito
à mesma liberdade dos homens e à realização de sonhos e ambições.
Hoje, o que se vê é uma disputa por popularidade e
oportunidade, regadas a hedonismo. Todos buscam o prazer imediato a qualquer custo,
mesmo roubar (um indivíduo ou todo um povo) ou matar.
Para que fazer o bem a alguém, se, em nosso lugar, esse
alguém não daria a mínima?
Esse é o pensamento atual, altamente egocêntrico,
imediatista, amoral e depressivo. Acabou-se a noção de amizade, de respeito, de
vida em coletividade. É esse fim de mundo que me preocupa, que me tira as
noites de sono e para o qual não vejo data específica.
Fim do mundo vira piada na internet, vira minissérie de
televisão, papo entre os amigos na mesa de bar. Enquanto isso, o dinheiro
público é vilipendiado, crianças seguem espancadas pelos pais, idosos
abandonados pelas famílias, cracolândias se multiplicando pelo mundo, jovens
sem perspectiva de futuro, lares dilacerados pelo egoísmo e pela inconsequência,
irmãos cultivando ódio e indiferença.
Não acredito em previsões de espécie alguma, porém,
acreditava na natureza humana, o que vem ficando cada dia mais difícil.
O fim do mundo está aí, disfarçado nos risos incrédulos acerca
de uma data qualquer, maquiado por luzes cada vez mais brilhantes de Natal, pelo
consumismo respaldado por um 13º para inglês ver, provável opiáceo de quem não
tem opção, ou que prefere não enxergar.
Assim, no dia 21 de dezembro, convido os leitores e amigos a
meditarem sobre o mundo, seu fim e sua continuidade, o nosso papel nesse
contexto e o que deixaremos de herança aos nossos descendentes.
Que não temamos o fim do mundo e, sim, brindemos ao seu
diário recomeço, que ainda é tempo!
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