sábado, 15 de dezembro de 2012

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O Fim do Mundo


O Fim do Mundo
®Lílian Maial


Faltam poucos para o fim do mundo, segundo o calendário maia.
Mas por que diabos nos importaríamos com o calendário maia? Os maias foram um povo de grande desenvolvimento histórico, como também o foram os egípcios, os assírios, os gregos, os etruscos, os celtas e tantos outros que, com a evolução, as guerras, as epidemias, as alterações climáticas, tenderam a sucumbir diante de novas civilizações.
Muito embora não acate o fim do mundo maia, previsto para o dia 21 de dezembro próximo, preocupa-me, sobremaneira, não o fim do mundo, mas o fim da humanidade.
Karl Marx, em "A Ideologia Alemã", afirma que um aspecto da atividade social que fundamenta a história é a tendência das pessoas a agir de forma a satisfazer as suas necessidades e, daí em diante, gerar novas necessidades. Para Marx, é o que impulsiona a contínua expansão da capacidade produtiva na civilização humana.
Já de acordo com Freud, atrás da luta de classes de Marx, ergue-se o conflito entre pai e filho, entre um clã estabelecido e um desafiador rebelde.
E no que nos tornamos, afinal? Qualquer que seja o pensador, sabemos que não há igualdade entre os seres humanos e que a motivação pode variar.
Então, Marx estaria certo: o que se quer é satisfazer as necessidades e, por conseguinte, acabamos por criar outras. Os mais jovens sempre desafiam os mais velhos e pretendem ocupar seu lugar na sociedade. Mas onde ficam: a moral, a ética, as normas sociais?
Não faz muito tempo, um homem não ocuparia o lugar numa condução, enquanto houvesse uma senhora de pé. Os pais não abandonariam os filhos ou os negligenciariam por nada. Não se permitiria o crescimento das crianças sem regras, sem horários estabelecidos, sem observação de suas companhias.
Talvez as famílias fossem mais estáveis, ou as tais necessidades vivessem ocultas sob o manto da subserviência, notadamente no caso das mulheres, que acabavam por ficar em casa cuidando dos filhos, sem o direito à mesma liberdade dos homens e à realização de sonhos e ambições.
Hoje, o que se vê é uma disputa por popularidade e oportunidade, regadas a hedonismo. Todos buscam o prazer imediato a qualquer custo, mesmo roubar (um indivíduo ou todo um povo) ou matar.
Para que fazer o bem a alguém, se, em nosso lugar, esse alguém não daria a mínima?
Esse é o pensamento atual, altamente egocêntrico, imediatista, amoral e depressivo. Acabou-se a noção de amizade, de respeito, de vida em coletividade. É esse fim de mundo que me preocupa, que me tira as noites de sono e para o qual não vejo data específica.
Fim do mundo vira piada na internet, vira minissérie de televisão, papo entre os amigos na mesa de bar. Enquanto isso, o dinheiro público é vilipendiado, crianças seguem espancadas pelos pais, idosos abandonados pelas famílias, cracolândias se multiplicando pelo mundo, jovens sem perspectiva de futuro, lares dilacerados pelo egoísmo e pela inconsequência, irmãos cultivando ódio e indiferença.
Não acredito em previsões de espécie alguma, porém, acreditava na natureza humana, o que vem ficando cada dia mais difícil.
O fim do mundo está aí, disfarçado nos risos incrédulos acerca de uma data qualquer, maquiado por luzes cada vez mais brilhantes de Natal, pelo consumismo respaldado por um 13º para inglês ver, provável opiáceo de quem não tem opção, ou que prefere não enxergar.
Assim, no dia 21 de dezembro, convido os leitores e amigos a meditarem sobre o mundo, seu fim e sua continuidade, o nosso papel nesse contexto e o que deixaremos de herança aos nossos descendentes.
Que não temamos o fim do mundo e, sim, brindemos ao seu diário recomeço, que ainda é tempo!

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