Primeiro foi o
estômago. A necessidade de uma certa saciedade. E o encontro com todos os
corpos presos a esta saciedade. Corpos que reduzem os espaços. O restaurante é
uma grande estômago. E somos o alimento. Comida. Comendo. Os olhos nem vêem.
Mas o calor é sentido. E enquanto caminho equilibrando meu prato de arroz
salada e um singular peixe frito, percebo a dificuldade de locomoção do meu
corpo que se desvia de cadeiras, mesas, e conversas desinteressantes. A
televisão me impõe um jogo de futebol. Mesmo sem querer meus olhos a buscam.
Camisas amarelas deslizam em fluxos virtuais. Sento junto ao grupo de amigos,
tentamos começar uma conversa. Produzir discursos e dizimar a fome. Um estranho
senta em nossa mesa. Jamais teria coragem de fazer isso. Ele come como se não
fôssemos ninguém. Não éramos. O sujeito de sua vontade era a fome. O objeto o
prato de comida. Seus olhos não buscam nada além. A fome. Estou impaciente.
Outras pessoas aguardam com seus pratos fumegantes e suas porções únicas de
carne. Estamos no terceiro salão. Há um
corredor entre o salão da frente, por onde entramos. Há um sofá velho e a porta
da cozinha. A produção do alimento. Não gosto de ver fazerem o que como. Um
homem pequeno está no sofá. Parece ler um jornal. Não sei se faz parte dos
donos do lugar ou só espera por uma mesa. Estamos sempre esperando... sempre
esperando por uma mesa...
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