sábado, 26 de janeiro de 2013

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ÊTA, UNIVERSÃO VELHO SEM PORTEIRA!


Imagem: wikimedia commons



Eu acredito em terráqueos. É muita pretensão pensar que nós, extraterrestres, estejamos sozinhos nesse universo imenso. Isso contraria qualquer lógica. Por que somente nós, ETzinhos horrendos, cascudos e disformes, teríamos a regalia de sermos os eleitos da criação divina?

Creio piamente que há algo muito mais divertido, entre os terráqueos, do que este nosso primitivíssimo e insípido sistema de teletransporte. Coisas como carros movidos a combustível e autoestradas ligando um lugar a outro, onde se possa aproveitar cada minuto da viagem e torná-la mais lúdica e emocionante - desviando de buracos, parando em praças de pedágio, encarando engarrafamento ou comendo uma coxinha no caminho. Eu diria que isso sim é que é vida inteligente, ou, no mínimo, interessante.

Nós não morremos, não casamos, não nos reproduzimos sexualmente, não temos conta para pagar nem fezinha na loteria para fazer. Só ficamos de um ponto a outro desse universão de meu Deus, cruzando o cosmo na velocidade da luz e sem encontrar coisa alguma que valha uma distração ou um olhar mais atento. E o que é ainda mais triste: sem achar sentido nesse vai-e-vem abestalhado, nessa expedição sem missão determinada.

Terráqueos sim, devem levar a vida, com afazeres que os ocupam, preocupam e ajudam a matar o tempo. Há relatos (pouco científicos, é verdade) de habitáculos denominados casas e apartamentos, onde os terráqueos se abrigariam com seus entes queridos. E dentro deles há fêmeas com seios e nádegas, partes anatômicas que as nossas desengonçadas ETzas nem imaginam o que sejam, e que por certo lhes causariam uma inveja danada. Alguns dos nossos juram ter feito contato com eles e afirmam que os felizardos cortam grama, fazem churrasco, tiram fotografias das formaturas dos filhos e se deslocam diariamente a lugares onde as tarefas que executam são trocadas por uns papéis cheios de números e desenhos - que eles posteriormente utilizam para converter em gêneros de primeira (ou nem tanta) necessidade.

Com exceção de alguns poucos privilegiados, que nada precisam fazer para terem em abundância os tais retângulos com números, os terráqueos lutam bravamente pela sobrevivência. Ah, minha Nossa Senhora da Ursa Maior, como isso seria maravilhoso para combater o tédio eterno que nos atormenta! Tudo bem, sei que sou só um ET lunático, mas não tenho culpa se insisto em sonhar com outras formas de vida. Enquanto esse acalentado encontro não acontece, deixa eu botar os pés no chão, passar na locadora e alugar pela enésima vez "T, o Terrestre", para assistir no DVD do OVNI.



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Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
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2 comentários

andre albuquerque

Relatividade é isso aí, excelente texto,Marcelo .Parabéns, fez lembrar um antigo conto do Ray Bradbury, onde num congresso de cientistas extra terrestres , a presença de vida em nosso planeta , era descartada pelos elevados índices de oxigênio na atmosfera.

Marcelo Pirajá Sguassábia

Obrigado, meu amigo André. Agradeço a leitura e o sempre motivador comentário! Abs.