quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

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O CARRO DO SOL 3 - JANDIRA ZANCHI



  
O CARRO DO SOL
3.

            As profusões das dilatações da Guerreira eram visões encarceradas e soltas ao compasso das armas. Acássio, aquartelado no altar da beleza e da altivez, resplandecia por entregar-se com pompa e solicitude, seguro e satisfeito da generosidade dos frutos. Erguera-se até a amplitude da seqüência principal e, dali irradiava, sem vacilo e indagações de floreios.
        Mona dobrava os joelhos para a beleza dele. Preparava-se para se tornar pupila do belo, assumida e reverente nesse vislumbrar da imponência da superfície do astro.
-              No altar de Apolo o deus conduz o princípio da irradiação por onde desliza a órbita do astro divino – rezou a moça.
-       A Guerreira, na poeta, colocou-se ao pé do centro de força, por onde o núcleo amortece a  pulsão para o vôo da luz – lisonjeou-a o jovem.
-    Humano e divino, vaidade e espírito, físico e abstração, vontade e consentimento.
          E Mona deixou-se girar por um tempo extenuado e esquecido, embevecida dos cachos dourados, dos translúcidos olhos azuis, do corpo torneado de ouro e elegância, deslumbrando-se do fato que se fazia conseqüência e, desnudo, armava o altar para além da ilusão.
-    O que a deus da beleza e da serenidade pode desejar ao ir de encontro com a fusão vibratória das múltiplas freqüências da sensibilidade?
-              As expedições de tua alma serão o mel do meu corpo.
-      Pois então se propõem às vertigens da terra cuspida por cima da larva, extasiada do canto das águas, namorada dos segredos da noite?
-              As partículas ascendem aos gases mais nobres munidas da certeza de movimento.
-    O mundo me girou pela sua pulsão. Aportou, em meus braços, decidido a requebrar-se até a saúde da boa qualidade.
-              É grande o mérito da Guerreira. Sempre senta à direita do deus.
-              E sabe dirigir seus olhos aos céus. Mas, seus pés, seus doloridos pés calejados, ainda pisam a lua.
-      Você saberá alçar o vôo.
-              Meu Mestre me desprezaria se te confessasse que é ao sabor do teu conhecimento que aguardo o vagar da grande onda? – e estendeu suas contas azuis e verdes no tampo de mármore.
-              Honro-me de tantos louros. Serei o guia  da feiticeira da lua para enternecer-me de suas estrelas e atirar aos arcos todo o furor da primeira ascensão.
          Confluíram no mar dos ventos, pois foram nítidas e inteiras as horas do círculo aberto. Deitaram-se na penumbra e, na sombra do piso claro, a noite invadiu-os, respeitosa, coberta de estrelas vermelhas, pacientes, dadivosas, afeitas aos entrelaces do Cálice de Ouro.

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