Sonho no absurdo
Não tirem do poeta a visão;
podem condená-lo à loucura
do mergulho no poema sem fim.
I
O poeta sabe a textura
exata do sonho.
E por perceber que os
números são símbolos
que poderiam arrastar seu
povo,
foi o primeiro a se
equilibrar nos destroços.
Não azulava as dúvidas com
preces
e entendia a sujeira como
um vício da realidade.
Caminhando em silêncio,
observou que a ausência de
espaço
não havia poupado nem mesmo
as sombras.
Homens desencontrados
cruzaram o limite da
incerteza
e bradavam:
– Não pedi esse conflito.
Mas, na dúvida,
deixo a arma engatilhada!
Nunca foi do poeta o
primeiro momento...
II
Aos primeiros que o ouviram
disse:
– Se abuso daqui à esquina
de minha casa,
perco o controle do dia.
– A vida é ritual de
pontes.
Vejo triste que, entre o
dito e o pensado,
ficou uma ponte tombada.
– Hoje massacraram nossas
verdades,
e enxergamos o abismo.
Choraram juntos a mais
temida das mortes.
III
O poeta sente o absurdo do
tempo humano.
O homem aquietará.
E juntos, todos os
ponteiros
deixarão de ter sentido.
É do homem buscar refúgio nos dias.
IV
Nos escombros,
na esquina antes sem luz,
sentaram as crianças.
Diante delas
o poeta circundou com o
dedo
seu corpo na areia.
Com um salto
surpreendeu-as com a
facilidade
que superou o limite de sua
prisão.
O poeta percebe o momento
exato do nascimento do sonho.
(do livro Rascunhos do absurdo - 2010 )
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