terça-feira, 8 de janeiro de 2013

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Trilogia para Gaza - III


Sonho no absurdo

Não tirem do poeta a visão;
podem condená-lo à loucura
do mergulho no poema sem fim.
I

O poeta sabe a textura exata do sonho.

E por perceber que os números são símbolos
que poderiam arrastar seu povo,
foi o primeiro a se equilibrar nos destroços.

Não azulava as dúvidas com preces
e entendia a sujeira como um vício da realidade.

Caminhando em silêncio,
observou que a ausência de espaço
não havia poupado nem mesmo as sombras.

Homens desencontrados
cruzaram o limite da incerteza
e bradavam:

– Não pedi esse conflito.
Mas, na dúvida,
deixo a arma engatilhada!

Nunca foi do poeta o primeiro momento...

II

Aos primeiros que o ouviram disse:
– Se abuso daqui à esquina de minha casa,
perco o controle do dia.

– A vida é ritual de pontes.
Vejo triste que, entre o dito e o pensado,
ficou uma ponte tombada.

– Hoje massacraram nossas verdades,
e enxergamos o abismo.

Choraram juntos a mais temida das mortes.

III

O poeta sente o absurdo do tempo humano.

            O homem aquietará.
            E juntos, todos os ponteiros
            deixarão  de ter sentido.

É do homem buscar refúgio nos dias.

 IV

Nos escombros,
na esquina antes sem luz,
sentaram  as crianças.

Diante delas
o poeta circundou com o dedo
seu corpo na areia.

Com um salto
surpreendeu-as com a facilidade
que superou o limite de sua prisão.

O poeta percebe o momento exato do nascimento do sonho.


(do livro Rascunhos do absurdo - 2010















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