O CARRO DO SOL
4.
-
Não são pequenas as minhas dúvidas, Acássio.
Consinto com o traçado da nave, condizente às cercanias da amplitude amarela da
estrela, ascendida ao fulgor das mais nobres e espaçadas partículas.
- E...
-
Por que ao chão foi largada a alma? Por que o deus
se deu essa forma de osso e carne, resvalando às valas, entupindo-se de lodo,
amarrado no poço das águas?
-
A forma que se funde é nobre, desde que escape do
excessivo envolvimento com a sua sombra.
-
Ao te ver, perfeito, belo, condizente, aéreo,
espaçado e livre no movimento, o consinto... mas, por que escapismo esqueceria
as mil aves do coro cantado por inúmeras vozes, ardentes e frementes, tão
firmadas nos seus hinos de amor e agonia? Como poderão reintegrar-se para
assimilarem as compostas leis do sutil traçado da aérea oração?
- Sou saído
das nuvens do corcel de ouro e não contenho todas as respostas em meu centro. É
mais fácil respirar em ar profundo, porém, as películas do líquido também
permitem um tranqüilo navegar. Se de melhores sonhos... como discutir a
validade do meio? É acompanhá-lo.
- No que
falhou a raça humana?
-
Também é produto do meio. Confronta-se em cadeia,
espelho e consentimento para a adoração do belo.
- São
estágios.
- Evidente.
O homem é o deus em si, mas empunhá-lo é o longo processo da execução de si
mesmo.
- E começa-se
pelo bailado dos arcos...
-
Não, antes, a alma é a sua primeira prenda. Pode
sair-se inteira, divina, em ser de pouco enfeite e desfeito de elegância de
movimento, impulsionado por febris arroubos de êxtase e humores viscosos. Os
arcos apenas amoldam o composto de energia, ação e luz.
- As
estrelas azuis explodem ao próprio centro bem antes do tempo.
- As
amarelas se arranjam com tanta perfeição, que é bem longo o trajeto da fase
principal.
- Permitem-se
a alucinação virtual de todos os seus arcos.
- O fulgor
do homem vai primeiro precisar deitar-se, suave e longilíneo, ao longo de sua melhor
forma e posição. Só então poderá a consciência traspassar a o infinito.
- É tão
sombria a tragédia do primata privado do cálice, bebendo as trombadas nas
bordas, indeferido antes de fornecer-se.
- Sim,
machuca a alma a fera denegrindo-se de sua valia.
- A você
também?
- A mim
também – e a deus abaixou os olhos.
Deixaram-se quietar por um longo silêncio. As
estrelas socorriam-se brancas, todas formadas da mesma luz, mas quantas
conseguiriam formar o benefício do núcleo? Era triste a métrica da marcha, que
nunca deixava dúvidas de seu decorrer no espaço/tempo.
-
É como se fosse o transtorno de qualquer outra
causa/efeito da vasta natureza cósmica – refletiu Mona.
- Temo que
sim.
- Porém,
toma a luz, em algum momento, ciência de si mesma.
- É do que
nunca se duvida. E o tempo não vai prejudicar a pureza desses gazes.
- A
entropia deita-se ao longo do solo, mas, a brandura da emissão é sempre a
mesma.
- Desde que
se forneça o combustível.
- Ele
altera a vibração, não a composição.
- A Era dos
Aéreos Deuses é gaseificada, mas ainda assim munida da mesma alma.
- Por que
te consola o heróico?
- Porque
vive com intensidade.
- E erra
com virulência.
-
Triste cortejo. Já não deito as minhas dúvidas,
antes, aspiro o perfume das nuvens.
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