Saio da cidade, mas confesso que a
cidade demora pra sair de mim, seu ritmo sem vírgulas conduz minhas ações,
dificuldade pra dormir, a cabeça não quer parar, mesmo quando o corpo deseja o
descanso.
Pessoas de todas as idades andam de
bicicleta, sem a preocupação de serem atropeladas, as cabeças erguidas, prontas
para um - Bom dia! Ou – Olá!
No comércio, além das vendas, há
espaço para um bate-papo e observações sobre o cotidiano. Um passeio de Maria
fumaça, a humanidade guiada pelos trilhos de ferro, sem se preocupar se
conhecem ou não, aquelas cabeças nas janelas da locomotiva, acenos constroem
parte do caminho a ser percorrido.
Dentro do vagão, um violeiro, com
modas divertidas, outras sobre o beneficio da vida no campo. Uma passageira,
discretamente se emociona ao ouvir: De
que me adianta viver na cidade se a
felicidade não me acompanhar... Mas sem amargura, como é a tristeza da
cidade.
Árvores e Montanhas infindáveis
mostram que muitos passageiros por ali já passaram, mas elas se modificam e
atravessam o tempo em melhores condições do que a humana.
Um cego na estação toca sua sanfona,
não sei se ele é capaz de sentir pessoas se assanhando em danças ao seu redor,
mas a energia que suas notas emanam, contagiam até as almas mais pacatas.
Ainda há animais, bois e vacas,
cavalos e éguas, pastam, cachorros livres e civilizados, sem a necessidade da
domesticação, circulam pela cidade, patos se apropriam de rios e lagos, mesmo
que estejam dentro de propriedades privadas, aqui ainda são animais e não pets.
Assisto a paisagem pela janela no
caminho de volta, o velho Braga me acompanha, porque mesmo tendo deixado-o no
quarto, eu estive com ele que me ajudou a despoluir meu olhar urbano. De volta
à metrópole, mas sinto que sou outro, um eu, mas também um outro.
3 comentários
Fernando,
Gostei do texto!
No interior mais humanidade e menos humanos que na cidade.
Abraços, Jorge
Uma bela e sincera fotografia.
Me senti lá, observando também esse cenário tão agradável. Como essa calmaria nos faz falta...
Parabéns pelo texto, Fernando.
Abraço!
Oi Fernando,
adorei sua crônica e me lembrou dos seus comentários sobre a cidade antes do show... ainda a vontade de conhecer a cidade...
um beijo!
Marcia Barbieri
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