terça-feira, 29 de janeiro de 2013

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PASSA QUATRO


Saio da cidade, mas confesso que a cidade demora pra sair de mim, seu ritmo sem vírgulas conduz minhas ações, dificuldade pra dormir, a cabeça não quer parar, mesmo quando o corpo deseja o descanso.
Pessoas de todas as idades andam de bicicleta, sem a preocupação de serem atropeladas, as cabeças erguidas, prontas para um - Bom dia! Ou – Olá!
No comércio, além das vendas, há espaço para um bate-papo e observações sobre o cotidiano. Um passeio de Maria fumaça, a humanidade guiada pelos trilhos de ferro, sem se preocupar se conhecem ou não, aquelas cabeças nas janelas da locomotiva, acenos constroem parte do caminho a ser percorrido.
Dentro do vagão, um violeiro, com modas divertidas, outras sobre o beneficio da vida no campo. Uma passageira, discretamente se emociona ao ouvir: De que me adianta viver na cidade se a felicidade não me acompanhar... Mas sem amargura, como é a tristeza da cidade.
Árvores e Montanhas infindáveis mostram que muitos passageiros por ali já passaram, mas elas se modificam e atravessam o tempo em melhores condições do que a humana.
Um cego na estação toca sua sanfona, não sei se ele é capaz de sentir pessoas se assanhando em danças ao seu redor, mas a energia que suas notas emanam, contagiam até as almas mais pacatas.
Ainda há animais, bois e vacas, cavalos e éguas, pastam, cachorros livres e civilizados, sem a necessidade da domesticação, circulam pela cidade, patos se apropriam de rios e lagos, mesmo que estejam dentro de propriedades privadas, aqui ainda são animais e não pets.
Assisto a paisagem pela janela no caminho de volta, o velho Braga me acompanha, porque mesmo tendo deixado-o no quarto, eu estive com ele que me ajudou a despoluir meu olhar urbano. De volta à metrópole, mas sinto que sou outro, um eu, mas também um outro.

3 comentários

Jorge Xerxes

Fernando,

Gostei do texto!

No interior mais humanidade e menos humanos que na cidade.

Abraços, Jorge

Carlos Davissara

Uma bela e sincera fotografia.
Me senti lá, observando também esse cenário tão agradável. Como essa calmaria nos faz falta...
Parabéns pelo texto, Fernando.
Abraço!

Anônimo

Oi Fernando,

adorei sua crônica e me lembrou dos seus comentários sobre a cidade antes do show... ainda a vontade de conhecer a cidade...

um beijo!
Marcia Barbieri