sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

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CIRANDA

Encontro em Flora Figueiredo a poesia Ciranda, Cirandinha, “o quarto ao lado eles ressoam./ Sonham seus voos de infância, / cristalinos./ Doces meninas, bravos meninos. / Elas mergulham num mar de cetim, / enquanto eles, heróis contundentes, / retalham dragões incandescentes / que se escondem sob o mato do jardim./ Elas, donzelas indefesas;/ eles, valentões varões.////... Mas amanhecem. / Já de pé, afastam a madrugada, / seguem seu caminho. / Cada um por si, cada qual sozinho / a conquistar seu lugar no mundo. / num instante mais curto que o segundo, / são homens e mulheres batalhando / na procura da fugaz felicidade./ No quarto ao lado estão ressoando / um tempo de criança e uma saudade.” A poesia de Flora anuncia que a ciranda é tempo, fato, acontecimento que alimenta a alma e harmoniza a mente. A ciranda é lembrança que traz à tona os pensamentos e as emoções, que me levam a acreditar em nós mesmos. Ela inspira a ciranda no dia a dia e, novamente, brinca com a história nas linhas traçadas, nos riscos do envolvimento pelo passado se fazendo presente. Mostra que a ciranda é vida em redemoinho: perder - ganhar, amar-ser amado, tristeza - alegria, bem-mal, bom-mau, sorte-azar, rosas-cravos; melhor dizendo, alguns não entram e outros não saem da roda. Onde a solidão tem olhar distante, girando no tempo. O fio condutor dessa poesia é a ciranda revelada com o silêncio da canção e no sono da criança, quando a ciranda é a palavra que habita, olha e se instala como carrossel. Lembrar Ciranda, cirandinha é permear a infância e descobrir o outro, o diferente, e ter a sensação de que o amadurecimento é caminho de imprevistos e, por isso, repleto de saudades e descobertas. Esse contraste entre os sonhos (lembranças) e as aspirações (descobertas) é ruptura saudosa na poesia de Flora, que se misturam em provocação e diversão, numa sequência de ações que se complementam. Ciranda, cirandinha retrata o universo lúdico infantil, que reflete o palco da vida: personagens, músicas e brincadeiras sobre suas próprias experiências.

1 Comentário

Pablo Flora

Flora Figueiredo é demais, uma apuração lírica bem cirandosa. Bela resenha, parabéns!