quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

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Uma Ex-Árvore na Cidade


“Uma semente brota / na pedra / e vinga a / árvore.//
Quem vê crescer? (Jorge Tufic)

Toda vez que vejo a cidade empedrada, percebo a falta de árvores e tenho a sensação de ter lutado em vão, o que me dá um ataque de indignação. Será que os avanços não podem preservar os espaços das áreas verdes?
Carpinejar, em seu livro Biografia da Árvore, semeia a literatura. A esperança não foi de toda vencida porque ainda temos os escritores que valorizam e pensam em árvores – na palavra e na carga simbólica – transcrevendo-as em poemas. Ziza de Araújo Trein escreveu entre 1923 e 1981, “Fico pensando na beleza que teria sido / aquela mata que, um dia existiu: / - Na gama dos verdes //... e das árvores...”
Na alma identifico as forças e descubro como os poemas nos afetam com suas mensagens e tornam mais leves o nosso dia a dia, permitindo-nos lembrar do tempo em que havia espaço vegetal, que preenchia os vazios, como em Álvaro Pacheco, “Era um tempo / em que possuía / muitas árvores / cultivadas com arinho / mesmo não sendo tuas...” E ao falar no Tempo Perdido, ele cita: “As árvores contém parôneas / só dão frutos verdes- / as outras / anteriores / cresceram / além do que se esperava // e agora / nem mesmo dão flores.”
Posso ver a natureza, como em Álvaro Pacheco, “Árvore / por dentro os ramos / e as pedras em volta. //... A trilha sob a chuva / nos troncos de concreto / entre os quadros escavados / os cogumelos de lembrança / no relevo do futuro”; e, como em Giuseppe Ungaratti, “Um véu de verde fará tenras amanhã de manhã / estas árvores, há pouco quando sobreveio à noite, / ainda secas.” Nessa hora ouso sonhar e sinto-me rodeada de muito verde e poetas amados – transbordo de emoções cada minuto desses momentos, como de Ernani Rosas, “Tudo releva, misteriosamente.../ As árvores eram numes, que falavam, / e n’um vago silêncio do inconsciente.../ eram sonhos silenes...”
Pedro Du Bois cria o efeito em seu livro A Árvore pela Raiz, mostrando a profundidade das linhas e o desrespeito pelo ambiente, “Marco da cidade / a árvore, isolada no topo do morro / atrai o pássaro e o inseto /o animal em busca de sombra / o raio da tormenta aniquila a copa / rasga o corpo resseca a raiz / em energia descarregada ao solo / a árvore fenece como exemplo / a ser seguido no isolamento.”
A triste realidade é essa: as diferenças entre os espaços empedrados e os espaços verdes; os detalhes, os olhares cínicos que desnudam a imagem da árvore e a transformam em uma ex-árvore na cidade.

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