quarta-feira, 27 de março de 2013

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SENHORA/FASCINAÇÃO - JANDIRA ZANCHI




  


Foi na última noite.
A primeira tempestade da madrugada
Anunciava a chegada do alvorecer
E todos os raios que partiram
Em viagens ignoradas
Voltarão em um clarão de lucidez.

Eu só me ria, só me ria
correntes e grilhões desabando
nem barreiras nem segredos
como vivemos por tantos anos
agrilhoados obstinados.
Mas, tem a primeira madrugada.

Antes de adormecer grande despertar
palavras e conceitos
– não refaço não repiso não teorizo.
Prática pré-praxis teoria depois
sonho agora nessa madrugada.

castigos e fetiches
coração eterno coração
detive incansável
que ronda teus passos

deve estar na poeira dos teus pés
o segredo da minha paz.

Quando adormeci esquecida no perfume dos teus braços,
fiz a ultima promessa, a primeira grande tentativa.
Só falo com os lábios cerrados, só amo escancarado,
aquelas naves de prata vem logo me buscar.
Querem recados, exigem desígnios, e eu quase não me lembro de te amar
mas, se ti amo ou ti quero, vislumbro tempestades no teu castelo,
fortaleza de grã-senhor – bigodes perfumados os dentes sedentos de meu sangue...

se não sou tua mais provável que sejas meu
pois sou inevitavelmente minha, minha, minha,
sempre tão minha e tão senhora
sedenta e segura a te procurar

tantos anos e séculos para a frágil senhora
que chora e beija tantas lágrimas apaga tanto sangue
quantos olhos vermelhos paralisados cansados
      deixarei fechar.
quando comecei a grande viagem
já não interrogava mais
já não era mais
dei três voltas no relógio
amei teus olhos de pássaro preso
tua força de bárbaro bruxo
arranquei as pedras de teu castelo
espalhei brisas de orvalho
no chão que beija teus pés.


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