A
propósito da Linguagem: Um recém-nascido é suficientemente velho para morrer.
Um
recém-nascido é suficientemente velho para morrer.
É
uma frase formada por nomes, verbo, adjectivo; tem a sua construção semântica,
sintáctica, pragmática, etc. É somente uma frase. No entanto, é uma frase que
causa impacto, é uma linha de figuras que alimenta a incerteza e a dor.
A
relação do Homem com a linguagem é uma relação de medo e de esperança. O medo
reside na incerteza e nas limitações do seu próprio corpo (o conjuntivo, as
frases condicionais são uma demonstração disso). A esperança está exposta,
essencialmente, no verbo Ser e no seu Futuro próximo ou imperfeito. De que vale
um tempo que se refere a algo que ainda não aconteceu se não temos a esperança
de o vivermos? E no entanto, dentro da esperança, o medo espreita porque há a
possibilidade, mais ou menos remota, de não estarmos na realidade futura a que
a língua se refere. Assim, o medo não anula a esperança nem esta anula o medo.
Ambas coexistem.
A
arte alimenta-se desta dicotomia. A relação do autor e da obra que produz é uma
relação com o tempo passado, presente e futuro. É com esperança que a sua obra
prevaleça que ele a produz. É com medo do fim que pega no seu material
(palavras, pedras, tintas) e combate como melhor sabe e pode. Por isso, e
isto a propósito de uma recente polémica (no bom sentido) em que me vi
envolvido, afirmo que qualquer obra é comparável. Nenhuma produção artística é
individual o suficiente para se poder dizer que é incomparável. "Já não há
começos", diz Steiner em “Gramáticas da Criação”. O "Incipit" é
uma utopia e toda a literatura, por exemplo, é reprodução parcial de si mesmo.
Toda a produção literária entra em dialéctica com o tempo e, assim sendo, o que
foi escrito está presente no que é escrito e estará presente no que for
escrito.
Tudo
é comparável. Tudo é presente.
2 comentários
Oi Malú, tudo bom?
Uma ótima semana a vc.
Bjs.
Audeni
Mário,
Achei Genial o Discurso!
Um Grande Abraço,
Jorge
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