quinta-feira, 18 de abril de 2013

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ANTES QUE O MUNDO ACABE - SÔNIA PILLON


     Gaya é um nome incomum, encontrado em duas cidades, no
Níger e na Índia. É também a designação de um gênero botânico
e de uma página de rede social dedicada aos adeptos da Nova
Era... Porém, nessa história que vou contar, surpreendentemente
Gaya foi o nome escolhido para uma mulher de espírito
inquieto. Arrastada por uma paixão juvenil (“fogo de palha” da
adolescência, disseram os amigos), Gaya contraiu matrimônio
aos 17 anos, no norte catarinense. Acreditava piamente no amor
eterno, como nos contos de fadas, em que as personagens se
casam e são “felizes para sempre”...

     Pois bem, Gaya casou e teve três filhos homens. Acompanhou
o crescimento dos três, aos quais se dedicava integralmente.
O encantamento dos primeiros meses de casamento se acabou
quando ela descobriu ter um marido um homem ciumento,
possessivo, frio e calculista. Sua máscara tinha se espatifado em
mil pedaços... E com isso, Gaya foi cada vez mais direcionando
suas energias na criação de Miguel, Natanael e Gael.

     O tempo foi passando. Miguel, o primogênito, completou 18
anos. Natanael, 16, e o caçula Gael, estava com 14 anos. Há
anos, ela e o marido Rafael passaram a dormir em quartos
separados. Dependente de álcool, Rafael se negava a buscar
ajuda e a convivência do casal se tornava cada vez mais difícil.
O patrimônio acumulado e o comodismo impediam os dois de se
separarem...

     Foi quando os noticiários começaram a divulgar o Calendário
Maia, que apontava a data de 21/12/12 como o Fim do Mundo...
Foi o que bastou para Gaya entrar em parafuso. Sempre foi
supersticiosa. De nada adiantou que as pessoas mais próximas,
inclusive os filhos, a alertassem de que o “mundo” só acabaria
daqui a milhões de anos...

     Para ela, a simples possibilidade do mundo acabar e ela não ter
vivido o que gostaria, presa a uma relação falida, fez com que
finalmente tomasse uma decisão: iria se separar do marido, antes
que o planeta explodisse e virasse pó cósmico...

     Faltando pouco mais de um mês para o anunciado Fim dos
Tempos, ela comunicou sua decisão a Rafael e aos filhos na mesa
de jantar. Todos ficaram estupefatos. Na madrugada seguinte,
ela deixou a casa. Comprou uma passagem em um cruzeiro pelo
Mediterrâneo. – Por que guardar o dinheiro da poupança, se
estamos em contagem regressiva?, pensou Gaya. Ainda tinha uma
aparência jovial e queria aproveitar a vida, antes que fosse tarde
demais...

     Foram 30 dias de turismo e lazer no navio, período em que
se divertiu a valer, sem pensar no amanhã. Relações casuais,
paqueras eventuais, eventos sociais e festas, muitas festas! Gaya
intensificava a sua busca desesperada por alegria e prazer. Queria
recuperar o tempo perdido de uma vez só...

   

     Faltando apenas um dia para o fatídico 21 de dezembro, a viajante
pisou em terras catarinenses novamente. Reservou um hotel,
pediu um espumante, salmão grelhado, salada e morangos.
Ficou toda a noite na sacada da suíte, esperando o fim... que não
chegou! Ao ver o sol raiar, sorriu. Afinal, o Fim do Mundo, que
não chegou, a tinha decidido voltar a viver, e isso foi a melhor
coisa que podia ter acontecido para Gaya. Chorou de alegria. Era
um Mundo Novo que se apresentava à sua frente!

Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre (RS) e desde 1996 radicada em Jaraguá do Sul (SC), Brasil.

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