CAROLINA
Tu, doutro lado do mundo, és quase
uma inexistência minha, respiração e rima desconexas e um adeus e outro e mais
outro e mais outro. Tu do lado de lá és hipertrofia dos pulmões ao abraço do
coração inútil e – sem alarde – um sufocamento. O excesso de ar abafa com a delicadeza
da morte e meu corpo vai de encontro ao teu no centro de tudo o que é saudade, desvalido.
Desvalida-mente.
Quando me deixastes, Carolina, foi
que a vida começou para mim. Ela, uma vadia inconsequente, a rouquidão nos
lamentos dos malditos. Antes de ti não havia vida porque era o céu, o paraíso
do livro sagrado dos que creem e então eu preferia estar morto para que tu estivesses
em mim novamente, e as carícias em passos de bailarina porque o tempo permitia,
e permitia também o leve suor de tua nuca nos finos dedos meus.
E foste para o outro lado do mundo
enquanto eu caía de um quase sonho nos braços da vida que era esse lamaçal todo
de matéria orgânica apodrecida pela certeza do fim, e não tiveste o mínimo
pudor, Carolina, porque carregaste em teus braços-ectoplasmas várias partes de
mim. Com a delicadeza de quem morre novamente pois carregas no último momento o
tempo e seus rituais de paciência. E eu despenquei de um quase sonho ao quase
tempo num mundo exato. E eu te odeio Carolina desde o momento em que me
paristes pra vida.
Mariela Mei é poeta e escritora. Bloga em gracadesgraca.com
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1 Comentário
Mariela,
Carolina É Genial!
Um Beijo, Jorge
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