quinta-feira, 4 de abril de 2013

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CONTAÇÃO: "Carolina" - por M.Mei







CAROLINA

Tu, doutro lado do mundo, és quase uma inexistência minha, respiração e rima desconexas e um adeus e outro e mais outro e mais outro. Tu do lado de lá és hipertrofia dos pulmões ao abraço do coração inútil e – sem alarde – um sufocamento. O excesso de ar abafa com a delicadeza da morte e meu corpo vai de encontro ao teu no centro de tudo o que é saudade, desvalido. Desvalida-mente.
Quando me deixastes, Carolina, foi que a vida começou para mim. Ela, uma vadia inconsequente, a rouquidão nos lamentos dos malditos. Antes de ti não havia vida porque era o céu, o paraíso do livro sagrado dos que creem e então eu preferia estar morto para que tu estivesses em mim novamente, e as carícias em passos de bailarina porque o tempo permitia, e permitia também o leve suor de tua nuca nos finos dedos meus.
E foste para o outro lado do mundo enquanto eu caía de um quase sonho nos braços da vida que era esse lamaçal todo de matéria orgânica apodrecida pela certeza do fim, e não tiveste o mínimo pudor, Carolina, porque carregaste em teus braços-ectoplasmas várias partes de mim. Com a delicadeza de quem morre novamente pois carregas no último momento o tempo e seus rituais de paciência. E eu despenquei de um quase sonho ao quase tempo num mundo exato. E eu te odeio Carolina desde o momento em que me paristes pra vida. 



Mariela Mei é poeta e escritora. Bloga em gracadesgraca.com
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1 Comentário

Jorge Xerxes

Mariela,

Carolina É Genial!

Um Beijo, Jorge