sábado, 13 de abril de 2013

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LÚCIFER( ANOS 90) - JANDIRA ZANCHI



para falar a verdade eu só recito e não me lembro de quase mais nada do que era bom
e,  mais ainda, discordo de que o bom fosse de fato um fato
são nuvens de memória olvidos de história
recriações subjetivas de passatempos sociais?
afinal tudo era sempre eu mesma.
aí entrei em um pique de me resolver
de me esclarecer
e fui expulsando reintegrando
premonições fantasias visões
saindo do ar do sério do concreto
até me dar conta que entrementes
entrelaçada
arquitetada estava no objetivo
emergente dialético fosforescente e...
existe o bem e o mal e como uma alma de flores
em estrelas poemas equações
contornei uma roseira no bem, mas, não, antes, todavia,
sou sempre eu mesma, eu, eu, eu,
ninguém acreditaria
manhã dia ou noite ou bem tarde
é sempre aquela mesma pessoa
no espelho a mesma cara empalidecendo
nas olheiras e cansaços
na rua ante uns seres parecidos ou esquisitos
que correm e requebram seriedades ou infinitudes
que devem entornar-se em meia dúzia de gestos
eu dilato e percebo algum universo
                                                               somos resolvidos em unidades e isso me incomoda tanto
afinal, pensar não deixou de me tornar
a mesma figura  eternamente figurando por aí
esse arauto – Lúcifer – de fim de um tempo
transviada travestida em esperança.