Ouviu-se
o indicativo sonoro. Teríamos de sentar e apertar os cintos. O avião ia
começar a aproximar-se da pista. Nunca tinha ido à ilha mas só tinha boas
referências. Um local luminoso e agradável com água quente, convidativa ao
mergulho.
Não
era porém o lazer que me trazia a estas paragens. Vinha incumbido de uma missão
da mais alta importância. Estava habituado a detetar a expressão do génio,
qualquer que fosse a sua incarnação. Depois de detetado, eu e a minha equipa,
tratávamos de traçar-lhe um plano educativo. Queríamos que toda a genialidade
fosse transposta para o mundo.
Já
tínhamos tido alguns casos de sucesso retumbante. Dois génios produzidos por
nós arrastavam atrás de si multidões. Deslumbravam todos com os seus gestos, os
seus dizeres eram ouvidos e escamoteados nos mais ínfimos detalhes.
Tivemos
conhecimento de uma criança que podia ser um novo caso de incarnação. A
insistência pareceu consistente e decidi deslocar-me pessoalmente à ilha.
Antecipei
as dificuldades costumeiras nestas situações. Os sinais confirmativos do génio,
a reticência dos pais, os longos meses até obter um sim da parte da família. A
criança viria connosco para se transformar no génio.
Entretanto
o voo terminou. Estava agora no terminal para levantar a bagagem. Não havia
pressas. O encontro fora aprazado para o dia seguinte. Ia jantar sozinho,
dormir no hotel – enfim, relaxar um pouco.
A
manhã era plena. Acordei bem-disposto. A ilha já tinha fornecido à humanidade
um génio incomparável. Quem sabe se hoje não seria outro dia de sorte? Apanhei
um táxi. A discrição era um dos nossos modos preferidos de ação.
Encontrei-me
defronte de uma velha casa. Fui à conversa com uns pais desconfiados e
inseguros.
-
A criança?
Ali
estava ela: loirinha e insegura. Tirei então a bola do saco desportivo que
carrego sempre comigo. Perguntei-lhe:
-
Vamos então jogar um pouco?
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