terça-feira, 30 de abril de 2013

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Santo Sujo


                        Para Jayme Ovalle



Nada sei de mim
nesse emaranhado de tinta
               eclipse do absoluto
quando atinjo
o  último lampejo de deus
que se debruça
no espaço em que me lanço
para alcançar o céu que me aguarda.

Nada sei de mim
nesse lapso
               em que me acena o santo sujo
suspenso nos arcos da Lapa
admirando as partituras dos vagalumes.

Nada ... Sei de mim
o azul do alumbramento
               a metáfora inacabada
nos alucinógenos neons
dos becos de meninos
adormecidos
recantos de caos
que seus corpos guarda.

Sei, santo, 
da voracidade
com que tragam
a madrugada
do acalanto da desordem
               silêncio entristecido
dos espectros desmemoriados.

Santo, sei
do relicário de ossos,
sem céu, sem teto.

Sei que bebo,
o que vaza
e me inunda
e é ácido
como vinho jovem.

Jorge Elias Neto

4 comentários

Jorge Xerxes

Jorge,

Gostei Muito do Poema!

"Sei, santo,
da voragem
com que tragam
a madrugada"

Forte Abraço, Jorge

Jorge Elias Neto

Obrigado Xerxes:

Se ainda não leu, vale ler a biografia de Jayme Ovalle.

Um abraço,

Jorge

Pablo Flora

Muito bom o poema e uma bela homenagem ao Ovalle. Obrigado por nos dar o prazer dessa leitura. Abraço

Jorge Elias Neto

Obrigado, Pablo:

Ovalle é uma das personagens mais envolventes da nossa literatura... Apaixonante.
Fico muito feliz com essa interlocução. Acho que existe uma carência dessas conversas nesse espaço.
Não tenho facebook, por isso, é bom quando posso estabelecer uma boa conversa.

Um abraço,