sábado, 25 de maio de 2013

0

ÁGUAS (ANOS 90) - JANDIRA ZANCHI


     
derramei nas águas lágrimas silenciosas estupefatas
salguei meu sangue pequenos refluxos de água parada
ficaria sempre com o mar, o sussurrar do mar
água  água me deixe flutuar
recorde nas noites fechadas da cidade verticalizada
o murmurar de tuas ondas serenas ou bravias
esses homens, amante água, porque lhes tiraram a vida
o refluxo do espírito
o roçar das rochas nas noites escuras nubladas
somos tão poucos aqueles que te amamos
consultando música nuvens amores ou livros
perdidos em tantas épocas fazendo poemas ou ciência
ou sinfonias ou filhos e noites de paz e silêncio
ao redor de nossas famintas – descansadas almas
só nos resta a confidência com o próprio espectro remoendo ideias
estrelas para os outros homens que cravam suas miseráveis perfídias
neste solo que você, amante água, revigora apagando, repetindo teu ciclo
de naves e navegantes
delirantes em paisagens e visagens cíclicas  - o coração diluído em teu tempo.

Seja o primeiro a comentar: