Anderson fixou os olhos nos
lençóis brancos de seda, preguiçosamente. A claridade da janela e o movimento
suave das cortinas de voil cor de marfim deixavam os raios solares invadirem o
seu luxuoso quarto. Sendo o filho do banqueiro e único herdeiro, se sentia à
vontade para esticar um pouco mais o sono, em plena manhã de domingo.
A certeza de que era um
milionário o fazia sentir poderoso, acima dos demais. Enquanto o mundo
enfrentava uma grave crise econômica, especialmente na Europa, ele estava ali,
seguro em sua mansão, rodeado de criados e cercado de mimos. Enquanto muitos
contavam as moedas para sobreviver, ele não precisava se preocupar. Mesmo com
as taxas menores, por causa da concorrência com outras instituições bancárias,
seu pai Nestor, aquela velha raposa, sabia como garantir os lucros.
Ao pensar nos negócios do
pai, Anderson resolveu pular da cama e se dirigiu ao armário. Escolheu um terno
italiano e um sapato de pelica que combinavam perfeitamente com a camisa e a
gravata. Precisava estar bem alinhado para a recepção de 50 talheres no Royal
Hotel. A high society, alguns emergentes espalhafatosos e a imprensa estarão
lá, à sua espera. - Não posso
decepcioná-los, disse para si mesmo, em frente ao espelho.
Enquanto dava os últimos
retoques no nó da fina gravata, sorria por dentro. Tinha 28 anos, um corpo bem
distribuído em 1,92 de altura, e tinha plena consciência de que era um dos
solteiros mais cobiçados do país. Se olhou mais uma vez de alto a baixo em
todos os ângulos e finalmente se sentiu pronto para brilhar, mais uma vez. Se
reconhecia um homem vaidoso e gostava de sentir que despertava a admiração e a inveja
das pessoas.
Pegou a chave da Ferrari
vermelha e se dirigiu à garagem da mansão. Ao virar a chave da ignição, ouviu
uma forte buzina e a voz de um homem, que gritava em direção a ele.
– Sai daí, ‘seu’ vagabundo!
- O que??? Como se atreve? O
senhor sabe com quem está falando?!, retruca Anderson, indignado.
De repente, o cenário muda
completamente. Anderson abre os olhos e vê um homem de terno e gravata saindo
de uma Ferrari vermelha, avançando em sua direção. Para seu desespero, agora Anderson
volta a se ver como realmente é: envolto em roupas rasgadas, deitado em um
colchão velho, cabelos desgrenhados, sujo e descalço. Envergonhado, se apressa
em se levantar, de cabeça baixa, enquanto lágrimas tomam conta de seu rosto.
Desde que perdeu tudo na jogo, naquele maldito cassino de Las Vegas, essa era a sua rotina diária. A barriga roncava e
doía de fome.
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