O calendário marcava 22 de
novembro de 1922. A
construção mortuária de pedra tinha dimensão menor, comparada às outras, dada a
origem nobre de quem foi sepultado ali. Nem
acreditava que finalmente encontrara a pirâmide que tanto procurava! Sentia
que estava vivendo um momento histórico, único, que o tornaria famoso nos cinco
continentes.
O corredor era escuro,
fracamente iluminado pelo tênue feixe de luz que saía da sua lanterna. Fez
questão de entrar sozinho, para usufruir vaidosa e egoísticamente aquele momento.
O voo desconexo dos morcegos
e o som que emitiam não o perturbaram. Ao contrário, entendia que a presença desses
mamíferos negros era a prova cabal de que aquele lugar se mantivera intacto,
por séculos e séculos...
O portal do mausoléu trazia
hieróglifos que pareciam saudar os visitantes. – Com certeza é uma mensagem de
boas vindas, pensou Howard Carter, que não tardou a encontrar o sarcófago de
Tutankhamon, o jovem faraó que morreu prematuramente, aos 19 anos, por
circunstâncias pouco esclarecidas.
A câmara funerária tinha
quatro capelas em madeira dourada, encaixadas, que protegiam o sarcófago de
quartzito. Ouro, muito ouro e jóias decoravam o túmulo. A essa altura, ele
gritou para que a equipe entrasse, e a fascinação por tanta riqueza se traduzia
nos olhares brilhantes e cobiçosos dos participantes da expedição.
Por um momento, o arqueólogo
fechou os olhos e ficou imaginando a sociedade egípcia em 1346 a .C, com o poder
absoluto do faraó, seus sacerdotes, chefes militares, escribas, comerciantes,
agricultores, pastores... Isso sem falar nos escravos, capturados nas guerras,
desprezados e sacrificados durante as construções das pirâmides... Também
enxergou um homem sorrindo, bem ao lado de um rosto mumificado. Carter soltou
um longo suspiro, mas logo se recompôs. Era hora de comemorar, chamar as
autoridades locais e a imprensa. O mundo precisava saber do seu achado!
Ao iniciar a interpretação
dos hieróglifos, traduziu a frase do portal, não sem um certo mal-estar: "A morte abaterá com suas asas quem
perturbar o sono do faraó". Um arrepio involuntário percorreu sua espinha.
– Bobagem!, disse para si mesmo.
Em
abril de 1923, o conde de Carnarvon, que financiou a expedição, morreu com uma
inexplicável febre, ainda no Egito. Foi a primeira de 22 mortes misteriosas e
fulminantes relacionadas à descoberta arqueológica. Curiosamente, Howard Carter
viveu mais 13 anos! Ao que tudo indica, “A maldição do faraó” não o atingiu...
Sônia Pillon é jornalista e escritora, nascida em Porto Alegre (RS) e radicada desde 1996 em Jaraguá do Sul (SC), Brasil.
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