sexta-feira, 14 de junho de 2013

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Viagens - Capítulo VII


Paraná – Quarta parte

Seu Gervásio acordou com o sol. Levantou de um pulo e foi ver se o cunhado havia chegado enquanto dormia. Não. Não voltara. Sua irmã abespinhada vociferou uns impropérios contra o marido desmiolado. Sem dizer nada, Seu Gervásio celou o cavalo e foi pelo caminho da Vila. Nem chegou a andar muito, logo depois da curva onde viu o cunhado sumir no dia anterior, estavam os dois burros. Um arreado e o outro com as cangalhas, amarrados em um tronco com as próprias rédeas. Ao lado um boné vermelho, desses que o Saci Pererê usa. E nada do Manezinho. Nem rastro.

Seu Gervásio desatou os burros, pegou o boné do saci e voltou para a casa. Contou à família o que vira. Todos começaram a chorar, e sua irmã pediu perdão ao marido, porque todos os que o Saci Pererê leva, ninguém mais tem notícia. E assim foi com Manezinho. Ninguém mais soube dele. E ninguém vai atrás do que o Saci leva.

Um ano depois, o compadre de Seu Gervásio, padrinho de seu filho mais velho, falou ter visto um cara tal e qual o Manezinho trabalhando de pedreiro, na cidade onde levava o gado que vendia. Mas, isso de ter gente parecida uns com os outros é normal. Afinal Deus não fez um só. Fez um mundão de gente.

E Seu Gervásio mastigava um bolinho de fubá enquanto olhava o caminho que se alongava além do portão.

Até hoje ainda não atinei como ele fazia isso com um dente só. E olha que comia torresmo, pipoca, pinhão assado e muitas outras coisas.

E vai ver que o pedreiro era mesmo um sósia do Manezinho. Só mais um dos tantos que Deus fez parecidos. Porque os que o Saci Pererê leva, nem notícia.

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