Paraná – Quarta parte
Seu Gervásio acordou com o sol. Levantou
de um pulo e foi ver se o cunhado havia chegado enquanto dormia. Não. Não voltara.
Sua irmã abespinhada vociferou uns impropérios contra o marido desmiolado. Sem
dizer nada, Seu Gervásio celou o cavalo e foi pelo caminho da Vila. Nem chegou
a andar muito, logo depois da curva onde viu o cunhado sumir no dia anterior,
estavam os dois burros. Um arreado e o outro com as cangalhas, amarrados em um
tronco com as próprias rédeas. Ao lado um boné vermelho, desses que o Saci
Pererê usa. E nada do Manezinho. Nem rastro.
Seu Gervásio desatou os burros,
pegou o boné do saci e voltou para a casa. Contou à família o que vira. Todos
começaram a chorar, e sua irmã pediu perdão ao marido, porque todos os que o
Saci Pererê leva, ninguém mais tem notícia. E assim foi com Manezinho. Ninguém mais
soube dele. E ninguém vai atrás do que o Saci leva.
Um ano depois, o compadre de Seu
Gervásio, padrinho de seu filho mais velho, falou ter visto um cara tal e qual
o Manezinho trabalhando de pedreiro, na cidade onde levava o gado que vendia.
Mas, isso de ter gente parecida uns com os outros é normal. Afinal Deus não fez
um só. Fez um mundão de gente.
E Seu Gervásio mastigava um
bolinho de fubá enquanto olhava o caminho que se alongava além do portão.
Até hoje ainda não atinei como
ele fazia isso com um dente só. E olha que comia torresmo, pipoca, pinhão
assado e muitas outras coisas.
E vai ver que o pedreiro era
mesmo um sósia do Manezinho. Só mais um dos tantos que Deus fez parecidos.
Porque os que o Saci Pererê leva, nem notícia.
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